Fake news ameaçam crianças e adolescentes
Com apenas alguns cliques, a informação está na palma da mão. Só que nem tudo o que é postado é verdade. Há muitas fake news (notícias falsas) que trazem ameaça a quem está recebendo o conteúdo.
Se nem os adultos estão imunes a golpes, imagine crianças e adolescentes que, muitas vezes, não conseguem identificar o perigo a que estão sendo expostos.
Especialistas dizem que as fake news que ameaçam o público menor de idade podem levar a furto de dados, clonagem de dispositivos, pedofilia, entre outros.
O especialista em tecnologia da informação, Eduardo Pinheiro, alerta para aplicativos de mensagens, a exemplo de grupos de WhatsApp, principalmente os temáticos, como de famosos, fã-clubes e de jogos, além das redes sociais.
“Nesses grupos também há pessoas estranhas. Estão ali só para atrair vítimas, geralmente usando uma fake news, jogando uma isca para ver quem vai fisgar. A criança e o adolescente que não tiverem preparados, devidamente orientados, vão acabar caindo nessas fakes news maliciosos”.
Ele contou que uma família o procurou depois que um estudante, de 11 anos, participava de um fã clube em um grupo de WhatsApp, voltado para jogos japoneses.
“Colocaram um banner com publicidade para ganhar bonificação no jogo. Tinha um link cujo objetivo era a criança clicar e, assim, instalar um código malicioso, um espião no aparelho para ter acesso à câmera e à galeria de fotos”.
A advogada Renata Schimidt Gasparini compara a fake news com uma espécie de “fofoca” digital, que visa propagar mentiras e, especialmente entre as crianças, pode acarretar situações perigosas.
“Alguns exemplos clássicos que circulam, tendo como o alvo a criança, totalmente vulnerável, são inúmeros, desde aquelas mensagens que circulam no WhatsApp 'acabei de ganhar álbuns de figurinhas; cadastre-se aqui'; ou 'sem em X tempo você não compartilhar, algo ruim vai acontecer'; ou 'conheça a capa que deixa qualquer um invisível”. Todas elas podem ter vários objetivos, como instalação de vírus, furto de dados e clonagem de dispositivos”.
SAIBA MAIS
O que são fake news?
- Trata-se de um conteúdo deliberadamente falso, que se passa por uma notícia verdadeira e é distribuído em rede social e outros meios.
Ferramenta mais propícia
- Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo revela que o maior vetor de notícias falsas é o WhatsApp, e mais, especificamente, em grupos de família.
Algumas ameaças
Grupos temáticos
- Cuidado com grupos temáticos de WhatsApp, como de cantores, blogueiros, fã-clubes e de jogos, que estão sendo usados com outra finalidade: propagação de fake news.
- É comum que pessoas mal intencionadas usem estratégias para fisgar seus alvos, como colocando uma publicidade sob o argumento de que ao clicar em determinado link e compartilhar irá ganhar algum bônus.
- Ao clicar, a vítima instala um código malicioso e o criminoso passa a ter acesso ao conteúdo do aparelho infectado, fazendo chantagens para conseguir fotos e vídeos sensuais.
Álbuns de figurinhas
- Por trás de mensagens no WhatsApp, como “acabei de ganhar álbuns de figurinhas”; “cadastre-se aqui para concorrer a algo” ou “sem em determinado tempo você não compartilhar, algo ruim vai acontecer” há armadilhas para instalação de vírus, furto de dados, clonagem de dispositivos.
Até Desenho animado
- Em uma das postagens, uma mensagem chama a atenção: “A Turma da Mônica está procurando um novo amigo!” Em seguida, surge uma pergunta: “Quer fazer parte da turminha? Tudo o que você tem que fazer é comentar: o número do cartão de crédito da mamãe, os três numerozinhos atrás e a data de expiração.”
- Com esses dados, os criminosos terão acesso a informações preciosas, incluindo o código de segurança do cartão de crédito.
Programas maliciosos e furto de dados
- Notícias falsas são hospedadas em sites que, embora pareçam inofensivos, têm a capacidade de ocultar programas maliciosos (conhecidos como malwares), ocultando códigos perigosos em seu conteúdo.
- Basta um clique e compartilhamento de um usuário para que, imediatamente, a máquina seja infectada e o conteúdo malicioso se espalhe em suas redes sociais. Crianças e adolescentes são mais suscetíveis pela falta de malícia.
- Às vezes, anúncios são configurados para infectar o dispositivo. Assim, os cibercriminosos encontraram maneiras de sequestrar dados e informações em anúncios para entregar links maliciosos.
Ameaças e outros boatos
- Ameaça de massacres em escolas, exposição de imagens de menores envolvendo questões de gênero, surtos de doenças, como coronavírus e bullying podem trazer graves consequências, como pânico, crises de ansiedade e até depressão.
Ação de pedófilos
- Usando essa mesma estratégia, pedófilos, disfarçados de crianças e adolescentes, se infiltram em grupos de WhatsApp, postam notícias falsas para ganhar a confiança.
- Depois, dão o bote e passam a obrigar que as crianças e adolescentes enviem fotos e vídeos com teor pornográfico, sob ameaça até de morte caso revelem o que está acontecendo para terceiros, sobretudo os pais.
Como se blindar
Conversa com os filhos
- Os pais precisam conversar com os filhos sobre fake news e boatos de internet. Para Eduardo Pinheiro, especialista em tecnologia da informação, os filhos, desde pequenos, já devem saber que hoje o ambiente digital é o principal meio de divulgação de mentiras. “Crianças e adolescentes precisam aprender a identificar e se defender de mentiras on-line”.
Armadilhas
- Fique atento e não caia em armadilhas: é importante mostrar às crianças que, na internet, nem tudo é o que parece. Então é fundamental saber distinguir o que é real ou falso.
- Mas Quando o filho orientado cair numa armadilha, ele deverá receber uma punição ficando sem acessar o computador e celular por um tempo, segundo o terapeuta de família, Cláudio Miranda.
Papel da escola
- Não são apenas os pais que têm o papel de conscientização. Cabe também aos educadores fazer alertas aos pequenos internautas.
Cuidado com compartilhamento
- Especialistas dizem que cada um tem que desligar o seu botão interno de compartilhamento automático de informações que recebem em redes sociais e aplicativos de mensagens.
Duvide e questione
- O psicólogo Felipe Goggi ressalta que em tempos de notícias falsas, a boa e velha receita da vovó ainda pode ser recomentada em consultório, ou seja, “duvidar e questionar, pois nem tudo que brilha é ouro”.
- “Buscar a confirmação com familiares, amigos, fontes científicas/oficiais e canais jornalísticos de credibilidade é uma boa ferramenta”, sugeriu Felipe Goggi.
Data da publicação
- Verifique a data da publicação da informação, pois nem toda notícia é necessariamente falsa. Algumas podem até ter acontecido há anos.
Tom alarmante
- Normalmente, quem cria essas páginas opta por uma linguagem em tom alarmante, como “Atenção”, “Cuidado”, induzindo que a pessoa clique em links falsos e compartilhe as informações.
Seja corajoso e peça ajuda
- Na dúvida, fale com alguém: não tenha vergonha em pedir ajuda, pelo contrário, isso é um ato nobre. Ensine as crianças isso, pois elas precisam se sentir à vontade para conversar com um adulto de confiança. A melhor forma de estimular esse comportamento é tendo uma comunicação aberta em casa e na sala de aula.
Recorra à Justiça
- Na hipótese de a fake news prejudicar uma criança ou qualquer pessoa, o caminho é o pedido de remoção judicial. É importante também a confecção da Ata Notarial (comprovação judicial da fake), que é um instrumento público no qual um tabelião registra os fatos presencialmente no Cartório de Notas, segundo a advogada Renata Schimidt Gasparini).
Fonte: Especialistas entrevistados.
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