Vaqueiro que pegou a senha do sucesso
O cantor João Gomes conta seu segredo e fala sobre os hits “Eu Tenho a Senha” e “Meu Pedaço de Pecado”
Apesar das dificuldades de quem nasceu e cresceu no campo, mais precisamente em Serrita, município de Pernambuco com pouco mais de 19 mil habitantes, o cantor e compositor João Gomes nunca deixou de ser um vaqueiro sonhador e cheio de fé.
Muito pelo contrário. A vontade de dar voz ao “seu Nordeste” sempre falou mais alto e o fez persistir. Ele, então, foi atrás do que desejava, tendo a certeza de que seu momento chegaria. E sua estrela finalmente brilhou, no ano passado, quando emplacou o hit “Meu Pedaço de Pecado”, com uma ajudinha do aplicativo TikTok.
“’É como falo na música ‘Eu Tenho a Senha’: ‘Levanta cedo pra labuta que eu ‘tô’ pronto, eu muito conto com meu Deus que está no céu, eu tenho a senha pra correr em todo canto, humildade e disciplina dos sermões que mãe me deu, eu tenho a senha e meu cavalo já 'tá' pronto e em cima da cela mostro que mereço meu troféu’. Quem tem um propósito e é abençoado por Deus sempre alcança os sonhos. Não desista nunca”, recomenda o artista de 19 anos, ao AT2.
Essas canções se juntam aos sucessos “Mete Um Block Nele”, “Se For Amor” e “Aquelas Coisas” no show que o cantor apresenta sábado (22), no Festival do Piseiro. O evento, que rola no P12, em Meaípe, ainda recebe os fenômenos Vitor Fernandes e Tarcísio do Acordeon.
Festival do Piseiro
O quê: Evento com os feras do piseiro Vitor Fernandes (PE), João Gomes (PE) e Tarcísio do Acordeon (CE)
Quando: Sábado (22), 21h
Onde: Parador Internacional. Rod. do Sol, Km 26, Praia de Porto Grande, Meaípe, Guarapari
Ing.: R$ 175 (Lote 5/meia)
Venda: lebillet.com.br.
Clas.: 16 anos
Apoio: Legal FM
"A gente ia na cara e na coragem mesmo"
AT2 - No sábado, chega a Guarapari para festival ao lado de Vitor Fernandes e Tarcísio do Acordeon. Como está a expectativa para o seu primeiro show no Espírito Santo?
João Gomes - Estou muito feliz! Em cada cidade que chego, recebo um carinho maravilhoso dos meus fãs e do público. Estou ansioso para levar a música do Nordeste a mais um estado que nos celebra e nos recebe.
Quando descobriu que o seu futuro era nos palcos?
Comecei fazendo uns vídeos e, entre um e outro, passei a cantar nas festas regionais, como as vaquejadas. A gente ia na cara e na coragem mesmo. Meu amigo Mário com uma sanfoninha velha, um ou outro com instrumentos e eu cantando. Na primeira vez, a gente só sabia três músicas.
Meu nome começou a correr no circuito dos vaqueiros e eu sempre compus. “Eu Tenho a Senha”, música que escrevi e é um grande hino pra mim, foi gravada pelo Tarcísio do Acordeon. Eu tinha uma promessa do empresário que me pedia sempre paciência. Às vezes, pensava em voltar para lavoura, terminar meus estudos, mas a música sempre falou mais alto para mim. Quando “Meu Pedaço de Pecado” virou hit, caiu na boca da galera, vi que era tudo isso que sempre quis mesmo.
A que atribui a longevidade do seu sucesso?
O popular sempre atraiu o público. “Meu Pedaço de Pecado” viralizou no TikTok e as pessoas se identificaram com o jeito: “'tô' querendo te beijar de novo, o teu beijo me enlouqueceu, tudo que a gente já fez foi pouco, quero sentir seu corpo no meu...”
Sempre viu as redes sociais como um espaço importante para mostrar o seu talento?
Com certeza! A internet tem um poder gigante em democratizar uma obra. Sempre fiz vídeos e postava. Comecei assim.
Abandonaria a vaquejada para abraçar o que está bombando, diante de tantas mudanças no cenário musical?
Não perderia nunca minha essência. Eu cresci na vaquejada e foi dela que me criei e que o Brasil me conheceu.
O que ele diz
“Eu sou um grande admirador do meu povo”
João Gomes está ciente que tem o poder não só de ajudar a levar o forró para o mundo, mas também de apresentar a realidade do povo nordestino. Foi pensando na vida dura na roça, onde via a mãe e avós trabalharem, que escreveu “Eu Tenho a Senha”, música que lhe abriu as primeiras portas, no começo de 2021.
“Inspiração sempre foi minha família. Tudo que faço é pensando neles. A luta dos meus pais e da minha avó e de muitos amigos. Sempre quis dar voz ao meu Nordeste e levar para o resto do Brasil essa força gigante que a gente carrega dentro de si. De se reiventar o tempo todo. De não abaixar a cabeça para as dificuldades e ser forte e lutador. Eu sou um grande admirador do meu povo. Ver o Brasil abraçar a música nordestina é o meu maior presente”, diz ao AT2.
Sem tempo para ostentar
Entrevistas, Instagram “bombado”, dinheiro no bolso e agora, finalmente, shows para um grande público. João está vivendo a vida que muitos sonham. Mas como ele lida com a fama? “Sou bem tranquilo em relação a isso. Sou simples e gosto de viver na simplicidade”, garante.
E faz uma reflexão: “Hoje, eu poderia ter um carrão, mas pra quê? Estou na estrada e não ia poder dirigir. Poderia comprar um casarão, com piscina e tal, mas, com a correria de shows, não ia conseguir dormir um dia nela, pois passaria o mês viajando. Sou muito pé no chão. Prefiro arrumar a casa da minha avó, levantar a casa do meu pai, dar condições boas para minha família”, completa.
Referências
Apesar de ter apenas 19 anos, o cantor demonstra ter um vasto conhecimento da música produzida no Nordeste. Em entrevistas, citou nomes como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Belchior e Cartola. “São nomes que fizeram história e são grandes referências pra mim”, afirma ao AT2.
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