Rafael Cortez: “É a fase mais difícil para fazer comédia”
Rafael Cortez - Humorista e músico “Não gosto que a buzina substitua risada ou aplauso”
AT2: Na pandemia, fez lives musicais e de humor, lançou solo e vai lançar CD. Foi uma fase produtiva!?
Rafael Cortez: Fiz bastante coisa, porque adotei a política do produzir conteúdo, e não de consumir conteúdo. Sou parte dessa turma que falou: “Vamos arregaçar as mangas e aproveitar que não tem mais desculpa”. Se estava postergando fazer um show novo de comédia, não tinha mais desculpa! Não tinha tempo para nada antes, agora o que mais tinha era tempo. As ideias estavam na caixola, então comecei a desenhar tudo e fazer a minha parte.
Vê o humor como um antídoto para momentos ruins?
O comediante é parte fundamental da sociedade. Ele tem um papel revitalizador, porque a comédia, muitas vezes, é o antídoto. Ela é o reflexo do que está acontecendo, mas com um olhar leve. Então, o antivírus do show faz justamente o uso desse direito e também do dever que o comediante tem: de trazer uma visão divertida até da coisa mais tensa.
Não falo de morte no meu solo. A função do comediante de bom gosto é tentar encontrar um meio-termo. Me sentiria péssimo se fizesse um show sobre coronavírus e risse de uma coisa que fez tanta gente chorar, sofrer. Mas me sinto orgulhoso de encontrar no meio desse drama um elemento leve: o isolamento social.
Fazer um solo no formato drive-in está entre as coisas mais diferentes que já fez?
É inacreditável! A maior dificuldade de fazer comédia neste momento foi não ter cobaias. Quando montamos um show, a gente primeiro testa as piadas. Vai para um barzinho, faz o texto novo e vai vendo a plateia reagir.
Não gosto que a buzina substitua a risada ou o aplauso, mas era o que podia fazer. Particularmente, fiquei animado de ser o único cara da comédia stand-up brasileira fazendo conteúdo inédito.
Com qual dos temas tratados você mais se identifica?
Assim como muitos colegas, estou um pouco irritado com minha casa. Gosto dela, mas não para morar 24 horas por dia. Digo no show que a casa da gente é um lugar que a gente gosta, desde que possa sair de manhã pra trabalhar e voltar à noite pra dormir. E a gente até considera passar um final de semana inteiro nela, desde que a gente esteja bêbado. (Risos)
É mais conhecido pelo seu lado comediante. Como a música apareceu na sua vida?
A primeira de todas as artes a me tocar foi a música. E é estranho, porque ninguém da minha família é músico. Por muito tempo, organizei minha vida pra ser um grande músico. Só não virei porque não tive a disciplina necessária. E aí outras artes tomaram conta de mim. Mas nunca abandonei a música.
Desejo que um dia minha carreira seja multifacetada, que todo mundo me reconheça como um comediante bom e também um bom músico e apresentador.
Em breve, lança seu 5º disco. Queria lançá-lo antes da pandemia?
Sim. A pandemia trouxe uma amarração para o projeto. Praticamente todas as músicas falam sobre aspectos da pandemia. “Um Abraço” fala da necessidade de manter abraços em quem a gente ama ainda ativos, mesmo não sendo físicos. Vai ser o disco mais bonito da minha carreira e até o começo do 2º semestre estará aí.
Tem a direção musical do Pedro Mariano, filho de Elis Regina e César Camargo Mariano.
Você e sua namorada, Marcella Calhado, são responsáveis por um ateliê de confeitaria. Como manter o peso diante de tantas delícias?
Quem põe a mão na massa é ela. Não sei fazer nem brigadeiro. Tem hora que não aguento e como um monte, mas sou muito disciplinado.