Helio de la Peña: “Sou uma espécie de Mogli, um menino preto”
O humorista fala sobre seu novo show de comédia em Vitória e comenta sobre sua trajetória no “Casseta & Planeta”
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Conhecido por integrar o “Casseta & Planeta”, Helio de la Peña, 62, segue se reinventando como artista e há quatro anos adicionou uma novidade em sua vida: a comédia stand-up, onde tem a oportunidade de tratar de assuntos mais pessoais.
Entre os temas, está o de ser o único negro em ambientes majoritariamente composto por brancos. E toda essa sensação de ser “diferente” teve início ainda no ensino fundamental, quando deixou a escola pública para estudar em uma instituição católica.
“No palco, trato das contradições da minha vida, em forma de piada. Sou uma espécie de Mogli, o menino preto, criado no meio dos brancos. Falo de situações de racismo que passei, da minha trajetória no 'Casseta' e tem algumas curiosidades: sou atleta, pratico natação em águas abertas”, conta, ao AT2, fazendo uma referência ao filme que tem como protagonista um garoto criado por lobos.
O carioca, que chegou a fazer alguns shows da turnê de 30 anos do “Casseta & Planeta” meses antes de começar a pandemia, mostra sua nova forma de fazer humor sábado, 12, em Vitória.
“Agora, estamos todos em outro momento e estou satisfeito de ter esse encontro com o público feito de uma outra forma”, afirma.
No palco, ele terá como convidado o humorista capixaba Hebert Cruz. Os artistas se conheceram durante a última passagem de Helio pelo Estado, em novembro, com o Pretaria.
“Hebert fez uma pequena participação nesse show e eu gostei bastante. Falei com ele: 'Quando voltar, gostaria de convidá-lo para dividir o palco comigo'”, lembra.
“A ideia é fazer um bate-bola com alguém local”, diz o humorista
AT2 - Percebe que há um movimento para criar públicos fieis à comédia stand-up?
Helio de la Peña - É fundamental que as cidades abram os olhos para essa forma de humor. Estive aí em novembro com o grupo Pretaria, achei bem legal. O público é acolhedor e fiquei com vontade de voltar!
Antes disso, tinha muitos anos que não fazia show aí. Com o Casseta, fiquei um tempão sem fazer apresentação e retomamos na turnê de 30 anos. Tivemos alguns percalços, não pudemos estar em Vitória, mas aí a pandemia chegou e acabou com a festa.
Por onde passa, convida outros humoristas. Por quê?
A ideia é fazer um bate-bola com alguém local, de uma figura que tem uma projeção naquela região, que, às vezes, não é tão conhecida, mas faz um humor de qualidade. Também é uma forma de me aproximar da cena de stand-up da região.
Muitos desses artistas convidados são negros. Quer deixá-los em evidência?
As oportunidades para os artistas pretos geralmente são menores. Então, essa chance de convidar artistas negros de qualidade soma bastante pra causa, para dar essa exposição que dificilmente os artistas pretos costumam ter. Realmente, tenho essa intenção e fico feliz de poder dar essa oportunidade para eles.
Sente saudade da correria dos tempos de “Casseta e Planeta”?
Foram bons tempos. Foi um período de bastante trabalho, mas foi muito gostoso de fazer. É legal que as pessoas tenham esse reconhecimento da qualidade do trabalho que a gente fazia. Foi um ciclo que se fechou muito bem.
Deu para matar a saudade com os shows da turnê?
Começamos a turnê no 2º semestre de 2019, fizemos uns oito shows, e estava tudo preparado para voltarmos com força em abril de 2020. Mas a pandemia abortou esse nosso projeto. Então, foi muito pouco pra matar a nostalgia! Queríamos mais! Foram poucas apresentações em relação ao tempo de trabalho investido.
Então, há chance de voltarem com a turnê por agora?
O Casseta está totalmente desarticulado. Até mesmo com o canal no YouTube, a gente parou. Cada um está com seus trabalhos solos.
O QUE ELE DIZ
Só “A Praça É Nossa”
“Se você ligar a TV, o que encolheu na televisão foi o espaço para o humor. Hoje, na TV aberta, de programas de humor mesmo, você tem só 'A Praça É Nossa' (TV Tribuna/SBT). Hoje, esse espaço já minguou. Mas, na internet, no YouTube, no TikTok, no Instagram, você tem um bocado de produção de humor e tem uma oferta de comediantes negros fazendo um bom trabalho”, afirma Helio de la Peña ao AT2.
Mistério
“É um mistério esse encolhimento do humor na TV aberta. Não sei se é porque os programas de humor foram ficando inviáveis. Realmente, não sei por que isso aconteceu. O 'Casseta' ficou durante 20 anos no ar e foi um sucesso tremendo, era uma referência. Em uma boa parte desse tempo, a gente não tinha internet como concorrente. E, depois, entrou como uma parceria. Tínhamos canal no YouTube”, lembra.
“Opinião quando cabe”
“Procuro me posicionar nas redes, estar presente nelas, fazer meu trabalho, divulgar o que venho fazendo, dando opinião quando acho que cabe dar opinião. A dinâmica das redes sociais é bem própria, porque, ao contrário da TV, que era unilateral, são lugares de debate intenso. Desde muito antes da pandemia, eu já via a importância das redes sociais. Estou no Twitter desde 2009, e já tinha blogs antes disso. Desde que começou o movimento de criar conteúdo para a internet, eu sempre estive envolvido”, salienta.
SERVIÇO
“La Peña Convida: Hebert Cruz”
O quê: Noite de humor com Hélio de la Peña (RJ) e Hebert Cruz
Quando: Sábado, 12, 20h
Onde: Vix Comedy Club. Rua Sete de Setembro, 269, Centro, Vitória
Ing.: R$ 30 (meia)
Venda: vixcomedyclub.com
Clas.: 16 anos
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