The Batman – A Volta do Homem Morcego

Adilson Carvalho | 02/03/2022, 20:06 20:06 h | Atualizado em 02/03/2022, 20:07

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/110000/372x236/inline_00112130_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F110000%2Finline_00112130_00.jpg%3Fxid%3D300495&xid=300495 600w, Batman e mulher-gato, vivida pela atriz Zoë Kravitz
 

Definitivamente, Matt Reeves consegue injetar vida nova em um dos mais populares heróis da DC Comics, depois de seguidas adaptações nas últimas décadas. Um dos filmes mais esperados do ano, “The Batman” segue uma direção oposta aos filmes de super-herói do Universo compartilhado da DC, mas se engana quem espera uma nova adaptação de “Batman Ano Um”, a icônica história de origem de Frank Miller e David Mazzuchelli.

O novo filme do herói encapuzado pega emprestado alguns elementos dessa e de “Batman – O Longo Dia das Bruxas”, mas o roteiro de Peter Craig e Matt Reeves é uma história com frescor próprio, explora o lado detetivesco do protetor de Gotham City, algo eclipsado nas versões de Tim Burton, Joel Schumacher, e até mesmo de Chris Nolan. 

O novo Batman é o “Ano Dois” de Bruce Wayne, um milionário recluso vestido de morcego em uma cidade assolada pelos crimes do Charada (Paul Dano) que está matando pessoas influentes da cidade. O vilão, contudo, está mais em sintonia com o lendário assassino do zodíaco do que com um Jim Carrey histriônico na versão de 1995 estrelada por Val Kilmer. Reeves (da trilogia “Planeta dos Macacos”) dirige o filme com uma admirável habilidade para exaltar o lado investigativo do herói criado em 1939 por Bob Kane e Bill Finger, e publicado pela primeira vez nas páginas de “Detective Comics” #27.

O produtor Dylan Clark, também colaborador de longa data de Matt Reeves, acrescenta que ele conseguiu tornar o personagem mais acessível emocionalmente e psicologicamente, se aproximando bastante dos thrillers policiais dos anos 70. 

Para isso, Robert Pattinson entrega uma atuação digna fazendo Bruce Wayne como um deprimido rock-star no estilo Kurt Cobain, definição feita pelo próprio diretor e co-roteirista. O ator ainda consegue convencer nas cenas de luta, e em sua química em cena com Zoe Kravitz como Selina Kyle, a futura Mulher-Gato.

O roteiro fez de Zoe uma mistura de Jane Fonda em “Klute – O Passado Condena” e Faye Dunaway em “Chinatown”, realçando os laços do filme com a narrativa do cinema noir clássico. Esse flerte com a estética do passado não significa, no entanto, que o filme não tenha boas doses de ação para sustentar suas 2 horas e 55 minutos, que o faz o filme mais longo do personagem. 

Claro que o resultado contraria completamente o projeto inicial do filme solo do Batman, que foi rascunhado ainda na época de “Liga da Justiça” (2017), quando Ben Affleck estava cotado para assumir a direção, além de fazer o papel principal.

O Batman de Pattinson, que sempre foi a primeira escolha do diretor, não é um super-herói imerso em uma realidade de seres superpoderosos, mas um justiceiro que busca encontrar sua própria bússola moral em uma cidade de criminosos que se sobrepõem à lei como Carmine Falcone (John Turturro) e Oswald Cobbelpot, vulgo Pinguim (Colin Farrell, irreconhecível).

Essa nova roupagem em cima de personagens tão familiares aos leitores de quadrinhos consegue não apenas ser uma abordagem mais realista como também atrativa para os não-iniciados no Batverso. Por isso, não estranhe ao se deparar com um Alfred mais atuante na ação (Andy Serkis) ou um Comissário Gordon (Jeffrey Wright) ainda mais participativo na trama, que ainda abre espaço para a discussão de que justiça não é vingança.

O roteiro é inteligente ao não perder tempo repetindo a origem do herói mascarado, mas incorpora o episódio da morte dos pais de Bruce Wayne de forma fluída à narrativa. Todas as peças desse tabuleiro são eficientes em espelhar o mundo real com a corrupção e a criminalidade de Gotham servindo como metáforas para as mazelas de nossa realidade despida de heróis mascarados. Talvez por isso Batman seja um dos personagens mais fascinantes das histórias em quadrinhos, e sobreviva a tantas interpretações e reinterpretações feitas pelo cinema e Tv, incluindo a série de 1966 estrelada por Adam West e Burt Ward que estreou no mesmo ano em que Reeves nasceu, e que o diretor admite nunca ter saído de sua memória afetiva. 

          Ainda é cedo, claro, para falar em sequências, mas o bat-sinal vai continuar a brilhar nos céus já que Michael Keaton também está de volta ao papel do cavaleiro das trevas no filme solo do “Flash” previsto para final do ano e na vindoura série da Batgirl preparada para a HBOMAX. Sem dúvida que 2022 é o ano do morcego.  

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