“A gente tem que se juntar em todas as causas possíveis”, diz cantor Thiaguinho
“A roda de samba é assim: quem chegar é bem-vindo”, afirma Thiaguinho, 38. E, como bom sambista que é, o cantor paulista acolhe outros talentos da música brasileira, sem distinção de bandeira ou estilo musical.
No recém-lançado projeto “Infinito Vol. 2”, por exemplo, ele solta a voz ao lado de Alexandre Pires, Péricles e Bruno Cardoso. Mas vai além do samba ao levar ao palco a cantora e drag queen Gloria Groove, uma das maiores representantes da comunidade LGBTQIA+ atualmente.
A união desses dois mundos resulta na romântica e poderosa “Presente do Céu”, uma versão em português do hit “Best Part”, do canadense Daniel Caesar com a americana H.E.R.
“Temos que estar cada vez mais mostrando para o povo, deixando claro, que a gente tem que se juntar em todas as causas possíveis. Acho que é a primeira vez que acontece de juntar um artista de samba com um que defende realmente a causa LGBTQIA+, mas óbvio que o primeiro critério da escolha foi o talento da Gloria e a nossa sintonia”, responde o sambista ao AT2, em coletiva sobre novo projeto.
“Pra mim, a honra é imensurável de cantar com ele”, afirma a drag queen. Além de estar em todos os aplicativos de música, “Infinito Vol. 2” vem com vídeos para todas as faixas, disponíveis no canal do cantor no YouTube.
“Esse é um álbum que conta a minha história”
Qual a expectativa para “Infinito Vol. 2”?
Thiaguinho É a melhor possível! O volume 2 vem pra deixar completo esse projeto, que considero o mais importante da minha carreira. São 38 músicas agora juntando os dois álbuns. E a minha expectativa é fazer as pessoas viajarem no tempo com as músicas mais antigas, regravações – versões de músicas que tive o prazer de compor – e inéditas.
Após anos de carreira, você está lançando um álbum através de sua própria gravadora.
É um passo a mais. E todo passo a mais que dou na carreira é algo que me deixa feliz. Nunca imaginei ter meu escritório, uma editora própria e nem ter uma gravadora.
Como foi gravar com Gloria Groove?
Um prazer imenso. A gente se encontrou em 2019. Ficamos tocando violão, cantando e eu fiquei assustadíssimo com o talento, a voz e com a pessoa. Para mim, é muito importante ter uma relação boa com quem se vai gravar, para você trocar uma energia verdadeira e isso chegar ao público. E isso acontece comigo e a Gloria.
A música é uma regravação, uma versão de “Best Part”, de Daniel Caesar com H.E.R. É a primeira vez que faço isso na vida, fiquei bem feliz da música ser liberada. É a única versão da música no mundo. E mais feliz ainda da H.E.R. ter postado a música nas redes sociais.
Como foi gravar esse trabalho durante uma pandemia?
A gente estava há muito tempo sem se encontrar, eu com a equipe toda. Então, nos reunirmos e gravarmos um álbum, foi muito importante para reconectarmos, voltarmos a fazer o que amamos. Foi muito especial.
Mas, ao mesmo tempo, tiveram várias dificuldades, como o processo de produção dele. A gente começou a mandar música para o Prateado, que é o produtor do álbum, e aí ele fazia os arranjos e mandava para os músicos e cada um gravava da sua casa e mandava. Só depois que a gente marcou os ensaios.
A gravação foi sem público, no Unimed Hall, em São Paulo. Sempre fiz shows lá, com muita energia, e gravar sem público cantando foi um grande desafio.
Mais uma vez, grava com Péricles. Como é essa parceria?
Eu e Péricles temos uma ligação muito forte, estamos sempre juntos. Por mais que a gente não trabalhe diretamente junto mais, como no Exalta, eu ainda tenho o Péricles como meu braço direito, um grande amigo, parceiro. Gravar com ele nesse álbum era fundamental, porque esse é um álbum muito importante pra mim, conta a minha história. É impossível contar minha história sem Péricles do lado.
Quais foram as suas principais inspirações nesse álbum?
Nos últimos anos, tenho olhado muito para a música dos anos 1970, 80, principalmente a música negra americana. E hoje existem artistas lá fora que também têm essa visão e que eu também admiro bastante, como Justin Timberlake e Bruno Mars, que tem esse lance de valorizar a banda, ter a big band. Gosto muito de trazer essa influência para o meu trabalho. Obviamente, transformando isso em samba.
Pretende fazer lives para apresentar o novo projeto?
Fazer live é algo muito legal, foi uma saída que os artistas encontraram para levar a música nesse período em que os eventos não eram permitidos. Mas tenho dois shows em agosto no Espaço das Américas, em São Paulo. Shows dentro de todos os protocolos. E eu fico feliz em poder reencontrar o público.
O projeto conta a sua história. Alguma música inédita traz algo de agora, que você esteja passando no momento?
Compor é algo mágico, divino. A maioria das músicas inéditas foram feitas em 2020. Nesse período em que eu estava em casa, e foi muito diferente compor em casa. Sempre compus viajando, cheio de coisa na cabeça.
Obviamente que, quando você faz uma música, existem experiências suas embutidas ali, mas a criatividade é o que vale naquele momento. E alguém está passando por aquilo que você está criando, alguém está vivendo aquela história.
Como vê a importância da sua arte e da representatividade para a juventude negra?
Ela é importante demais para os jovens. Até porque eu já fui o adolescente que olhava para o Alexandre Pires e o Netinho de Paula fazendo discursos nos palcos e falando sobre negritude. Eles contribuíram muito para a minha adolescência e a minha autoestima.
E eu fico feliz quando encontro algum jovem preto, e ele me fala: “Obrigado. Através da sua música, que fala da autoestima do menino preto, eu comecei a me amar mais, a me olhar diferente”. Então, é algo gratificante.