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Martha Medeiros

Martha Medeiros

Colunista

Martha Medeiros

Em comum

| 05/04/2020, 12:58 12:58 h | Atualizado em 05/04/2020, 13:05

Em comum

O que você tem em comum com os indonésios que sobreviveram ao tsunami naquele trágico janeiro de 2004? O mesmo que eles têm com os capoeiristas da Bahia e também com a família do Joaquin Phoenix: todos estão em casa, esperando a pandemia passar. Você nunca imaginou que sentiria um tédio igual ao dos pilotos de Fórmula 1, das modelos que saem na capa da Vogue, dos surfistas de ondas gigantes. Você e todos eles estão, neste momento, vivendo situação idêntica: lavam as mãos de meia em meia hora.

Os mangueirenses que desfilaram juntos no Sambódromo não tocam mais uns nos outros. O pessoal do Jota Quest, que canta “Dentro de um abraço”, não tem abraçado ninguém.
Sua mãe está longe, sozinha no apartamento dela, e no andar de baixo está o pai daquele seu colega que era apenas mais um na lista de chamada, vocês nunca mais se viram, mas hoje ele está tão preocupado com os idosos dele quanto você está com os seus.

Angelina Jolie deve estar compartilhando, por WhatsApp, piadinhas sobre a longevidade de Keith Richards. E Jane Fonda está recebendo as compras do super por tele-entrega. É isso aí, garotas, estamos juntas.

Nunca estivemos tão próximos de quem está tiritando de frio num hemisfério e se abanando de calor em outro.
Os operários que estavam reconstruindo a Notre Dame, os bombeiros que ainda buscavam corpos de vítimas soterradas em Brumadinho, as duas moças que gostam do mesmo rapaz, os dois estudantes que disputam a mesma vaga no vestibular – vida em suspenso. Só do que falam é sobre o coronavírus, é só no que pensam também.

Neste instante, os camelôs, os empresários, as prostitutas, as beatas, as dondocas e as manicures espiam a rua por trás de suas janelas. O baterista da sua banda preferida, o cara que acabou de cumprir pena e foi libertado, as crianças que nunca imaginaram sentir saudade da escola, palestinos, guias de turismo, psicanalistas, os que amam mocotó e os que detestam salada – todos do mesmo lado. O lado de dentro.

Você, eu, Bradley Cooper e Lady Gaga: quem de nós quatro está garantido? Budistas, terroristas, flautistas: qualquer um pode se contaminar. Sete bilhões entoando o mesmo refrão: fique em casa, fique em casa.
Recolha-se, resguarde-se e permita que o planeta volte a respirar sem tanta poluição e sem tanta interferência humana. É guerra, mas a paz pode tirar proveito.

Nunca imaginamos ter tanto em comum com quem se hospeda no George V, com quem sofre de asma, com artistas africanos, com lavadores de carro, com os que viajam na classe executiva: quando a distância física entre nós não for mais necessária, que a gente lembre que fomos todos parceiros de uma mesma luta e que considerar-se superior ou inferior aos outros sempre foi uma tremenda perda de tempo.
 

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