Escola chama estudantes de "alunxs" e vira alvo de reclamação

| 04/08/2021, 17:46 17:46 h | Atualizado em 04/08/2021, 18:09

Uma escola municipal de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi criticada por uma mãe e virou pedido de providência de um vereador após enviar tarefas para os estudantes com termos como "alunes" e "alunx", conhecidos como "linguagem neutra" ou "não-binária". As informações são do site GaúchaZH.

De acordo com o jornal, o caso aconteceu em julho, quando a mãe de um aluno do sexto ano, revoltada com o material, fez uma notificação extrajudicial criticando a atitude da Escola de Ensino Fundamental São Pedro.

Em entrevista ao GaúchaZH, ela contou que o filho havia recebido, pelo menos, três tarefas em que professores de História e Geografia tratavam os estudantes como "alunes" e "queridxs alunxs". A linguagem, que é defendida por alguns movimentos sociais, evita o uso de artigos que indiquem o masculino e o feminino.

Quando o material chegou pela primeira vez, a mulher, que não quis se identificar, explicou que ficou incomodada e pediu uma reunião com a direção. No entanto, de acordo com ela, após esse encontro, foram enviadas novas atividades com os mesmos termos. 

"Fui conversar, entender o posicionamento deles e explicar o meu. Na primeira vez, fomos eu e a diretora. Depois da reunião, as atividades vieram do mesmo jeito, então também pedi uma reunião com os professores. Eles deram o pensamento deles e eu, o meu. Deixei claro para a escola que não concordava. Me responderam o mesmo de sempre: que é inclusivo, que estão pensando em abordar isso em sala de aula para que as crianças aprendam a incluir a todos", contou a mulher ao GaúchaZH.

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Após o ocorrido, ela também acionou o vereador Jessé Sangalli (Cidadania), que encaminhou um pedido de providência à Prefeitura de Porto Alegre, no dia 14 de julho. No dia 27 do mesmo mês, a solicitação foi respondida pela Secretaria Municipal de Educação (Smed).

No comunicado, a secretaria explica que "a linguagem neutra foi usada apenas na saudação do exercício, não como conteúdo da atividade", além de que considerou que, embora a escola tenha tido a intenção de ser inclusiva, "é preciso trabalhar as normas gramaticais e ortográficas vigentes, utilizando o padrão culto da Língua Portuguesa, de acordo com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) e com grafia fixada pelo Acordo Ortográfico de 2016".

A secretária municipal de Educação, Janaina Audino, conversou com o jornal gaúcho e reforçou que a orientação da Pasta é de que "todas as escolas da rede municipal de ensino de Porto Alegre devem utilizar o padrão culto da língua portuguesa sempre que se dirigirem aos estudantes e à comunidade escolar, bem como na construção de todos os materiais didáticos".

A direção da escola também foi procurada pelo jornal e pediu para ser representada pela Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa). De acordo com o diretor da entidade, o professor Ezequiel Viapiana, essa é a segunda vez, no período de um ano, que uma escola da rede pública de Porto Alegre é denunciada por usar a linguagem neutra em atividades para os estudantes. 

Segundo o representante da Atempa, ele entende que é dever de uma instituição pública trazer a pluralidade para a sala de aula.

"Estamos falando de uma rede pública, municipal, cujo primeiro compromisso é a universalidade do acesso à educação. E por ter esse princípio da universalidade, temos que ter uma escola que ofereça educação gratuita, que prepara os alunos para os princípios da laicidade, prepara para lidar com pessoas de todos os credos, com negros, imigrantes, pessoas vulneráveis socialmente, pessoas com necessidades especiais, pessoa com gênero ou sem gênero, pessoas que se identificam de formas diferentes. A escola, por tudo isso, tem que ser democrática", afirmou ao jornal.

Ezequiel Viapiana ainda afirmou que, em sua opinião, recados como a notificação extrajudicial enviada pela mãe são uma forma de intimidar os professores.

"São mecanismos que podem ser identificados como cerceamento de liberdade de cátedra. Não existe legislação que proíba a utilização de linguagem neutra, esse documento (notificação extrajudicial) não tem efeito prático. É muito mais assediador", diz o professor e diretor da Associação. 

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