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Doutor João Responde

Doutor João Responde

Colunista

Dr. João Evangelista

Doença como forma de protesto

| 31/03/2020, 09:44 09:44 h | Atualizado em 31/03/2020, 09:48

Quando aquele casal entrou no consultório, eu não imaginava que os sintomas, descritos por ambos, revelavam uma linguagem cifrada para um se queixar do outro. Mal iniciei a consulta do marido, a esposa interferiu, demonstrando uma dor muda embutida na sua eloquência. Fale-me de seu padecimento, perguntei ao senhor Alvarenga.

“Pois bem”, ele iniciou. “Eu sofro de úlcera duodenal há oito anos. Passo semanas com azia, náuseas e, principalmente, uma dor que rói meu estômago. Sinto melhorar quando bebo leite, embora perceba de que seu efeito seja apenas paliativo.”

Interrompendo Seu Alvarenga, afirmei que o leite contém proteína e cálcio, dois estimuladores do ácido existente no estômago. Por isso, ele provoca um alívio imediato, mas os sintomas voltam a incomodar, depois de certo tempo.

“Eu entendo”, ele concordou. “Mas acho que essa úlcera tem relação com o meu emocional. Vivo dizendo para Leocádia não me aborrecer. Quando ela me irrita, a úlcera volta a me incomodar.”

Nesse momento, a esposa entrou na conversa, afirmando que o marido era dengoso, infantil e dependente. “Este cidadão acorda durante a madrugada, senta-se na cama e começa a reclamar, sem parar. Eu levanto, vou até a geladeira, pego um copo de leite, dou para ele tomar e fico ouvindo seus resmungos, até ele melhorar e dormir novamente.”

Embora percebendo o constrangimento de Seu Alvarenga, tive de concordar, lembrando que essa doença já foi chamada de “úlcera nervosa”.

Alguns ulcerosos apresentam perfil dependente e infantil. Qual é o ser que acorda de madrugada, começa a chorar, mama, recebe atenção e volta a dormir?

Qual é o ser que acorda no meio da noite, começa a reclamar, toma leite, recebe atenção da esposa e volta a dormir? O comportamento do ulceroso lembra aquele de uma criança.

Voltando para o caso de Seu Alvarenga, terminei de examiná-lo, solicitei endoscopia digestiva e prescrevi inibidores do ácido clorídrico.

Mal eu acabei de avaliar Seu Alvarenga, Dona Leocádia chamou toda atenção para si, afirmando que sofria de enxaqueca há quase tanto tempo quanto o esposo padecia de úlcera. “Eu não passo uma semana sem ter dor de cabeça, reforçou. Bastou me aborrecer e lá vem tonteira, enjoo, dormência, intolerância à luz e ao barulho. A causa dos meus aborrecimentos atende pelo nome de Alvarenga”, disse ela, alfinetando o marido.

A enxaqueca também guarda relação com estresse, lembrei. Em ambas as patologias o desajuste emocional serve de gatilho para ativar as crises.

Na úlcera péptica, o ácido clorídrico aumenta quando a substância adrenalina é despejada no sangue.

Na enxaqueca, a pressão no crânio aumenta quando a serotonina invade os vasos cerebrais. Essas duas substâncias são denominadas neurotransmissoras e participam no controle das emoções humanas.

Terminei a consulta encaminhando Dona Leocádia para um neurologista e sugeri que ela e Seu Alvarenga fumassem o cachimbo da paz.

Brigas são nocivas quando adoecemos com elas.

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