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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Da naturalização do existir à vida como invenção

| 27/11/2020, 10:43 10:43 h | Atualizado em 27/11/2020, 10:46

Diante de inúmeras e crescentes barbaridades que irrompem no cotidiano, debate-se: a vida é assim mesmo ou a vida é assim porque ela assim se sustenta? Opõem-se, evidentemente, a naturalização do existir e o existir como uma incessante invenção humana.

Sem grandes exercícios filosóficos, pode-se chegar à conclusão de que a vida é resultado do nosso livre-arbítrio. Ainda que admitamos termos origem sagrada, pois nem mesmo Deus pode salvar qualquer vivente sem que este decida ou peça para ser salvo.

Mas essa visão de um cotidiano sem lastro divino não é muito amigável à nossa condição de seres que padecem da sensação de desamparo por todo o sempre. É refratária também àqueles que não gostam de se responsabilizar nem de se colocar no lugar do outro que sofre.

É ainda complexa, porque admiti-la requer que entendamos as estratégias que dinamizam o correr dos dias – e isso não é simples. Ademais, do estrutural que articula o existir, destacam-se majoritariamente seus efeitos e não suas engrenagens, como o muro bem aplainado esconde ásperos tijolos, vergalhões e concreto de suas entranhas. Ir além das aparências ou superfícies não é padrão, definitivamente.

Desse modo, as estruturas que movimentam a humanidade tornam-se invisíveis a olhos despidos da vontade de saber, passando a compor a paisagem como um dado natural, justamente aquilo que menos determina o nosso existir. Os fatores estruturantes mais cruciais são os simbolismos e as referências ético-morais que norteiam e dinamizam corpos e intersubjetividades. E estes são pura elaboração discursiva consolidada nas disputas por hegemonias – as verdades dos vencedores, naturalizadas!

Isso ocorre porque nossa existência é carente de sentido. Do ventre à sepultura, sabemos que estamos sob a luz oriundos de um mistério e caminhando para outro, sem nenhuma explicação sobre o porquê, o como, o quando... O sentido de que aqui se fala é exatamente um conjunto de respostas as essas questões. Assim, quem domina a usina de razões e prescrições ao existir tem efetivamente o poder da vida.

Nesse caminhar, a prevalência da inevitabilidade sobre a historicidade é reafirmada especialmente pelos que se beneficiam do “porque é assim mesmo” ou por aqueles que não suportam dúvidas e se agarram a simplificadas explicações existenciais como verdadeiros dogmas. Esse conservadorismo dos exitosos do modelo ou dos temerosos das incertezas encontra seu par do lado dos oprimidos, cuja versão é suportada por resignação ou fatalismo.

De ambos os lados, uns por vantagens, outros por opressão bem sucedida, o que se tem é o reforço da anti-história, do destino como sorte ou azar suplantando o fato de que o viver se resolve é no chão da caminhada em que os passos estabelecem os caminhos. Mas, à la Caetano, talvez possamos contar com a possibilidade de uma epifania ou de um súbito saber acerca do fundamento histórico do existir, “não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio”.


José Antonio Martinuzzo é doutor em Comunicação,
pós-doutor em Mídia e Cotidiano e professor na Ufes.

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