Consumo de vinhos dispara na quarentena
Concentrado em casa, o brasileiro mudou alguns hábitos de consumo, resultando em um crescimento sem precedentes de algumas categorias.
E, entre as bebidas alcoólicas, a mais beneficiada foi a de vinhos e espumantes, cujas vendas cresceram 12% entre janeiro e maio de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019 - um desempenho que surpreendeu até mesmo especialistas na área e empresários do setor.
A notícia foi especialmente boa para o produto nacional, que viu uma expansão nas vendas de 15%, acima da média geral, enquanto os importados, impactados pela alta do dólar, tiveram um avanço mais discreto, de 5%. O crescimento veio na esteira de uma ampliação do consumo per capita: depois de uma década chegando próximo a 2 litros por ano, o País superou essa marca pela primeira vez em 2019.
Apesar de vinhos e espumantes serem um produto que o brasileiro aspira a consumir, a contração da renda dos últimos anos limita o valor que os consumidores podem gastar com o produto.
Segundo Felipe Gualtaroça, presidente da Ideal Consulting, empresa que acompanha o mercado de vinhos no País, 80% das vendas estão concentradas em garrafas de até R$ 70 - o chamando segmento de “entrada”.
Ainda assim, o resultado é surpreendente, uma vez que um dos principais canais de distribuição do vinho - os restaurantes - tiveram a atividade reduzida quase a zero. Gualtaroça explica que o crescimento se deu em dois canais: o varejo tradicional e o e-commerce.
“Um dos fatores que colaboraram para o aumento do consumo foi a maior visibilidade que os supermercados deram ao vinho. Isso faz o consumidor pensar: talvez possa experimentar.”
Outro veio de aproximação entre o consumidor e o mundo do vinho são os clubes da internet. O maior deles, o Wine.com.br, fechou o mês de junho com 170 mil associados, um crescimento de 20% em 12 meses.
Segundo o presidente do Wine, Marcelo D’Arienzo, a empresa espera manter esse ritmo de crescimento ao longo do ano, apesar das incertezas da economia. A companhia deve faturar R$ 430 milhões em 2020.
Em contrapartida, o setor passou a enfrentar outro problema: a disparada no preço dos importados. É uma questão que afeta os grandes e-commerces e clubes de vinho, que basicamente trabalham com rótulos estrangeiros.
Bebida nacional enfrenta desafio de reputação
O aumento do consumo é um bom sinal, mas o vinho nacional ainda enfrenta um desafio de reputação com o consumidor, de acordo com Felipe Gualtaroça, presidente da Ideal Consulting, que acompanha de perto o mercado do País, informa o jornal O Estado de S. Paulo.
“Ainda há uma certa associação ao vinho de garrafão, mas aos poucos o preconceito está diminuindo”, diz o consultor.
“Isso já não acontece mais com o espumante brasileiro, que já é considerado tão bom ou até melhor do que o internacional”, explicou.
Apesar do recente crescimento, ainda há uma carência de informação sobre vinhos - o consumo per capita de 2,13 litros por habitante ao ano ainda é bastante baixo diante de mercados mais maduros.
Na maior parte da Europa, por exemplo, o consumo de vinho está acima dos 20 litros anuais por pessoa, passando de 30 em várias nações, incluindo Itália e Suíça. Na América Latina, nações como o Uruguai e a Argentina estão cima dos 10 litros.
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