Consolo da falsa ciência
Em tempos de pandemia, alguns medicamentos têm reivindicado status científico, embora careçam de provas ou plausibilidade.
A fronteira entre ciência e pseudociência tem implicações religiosas, sociais, filosóficas e artísticas; basta lembrar que “medicina é a ciência das verdades temporárias”.
A verdade é frágil e poderosa na ciência médica. Frágil porque é efêmera, portanto precária. Poderosa porque tem grande influência, enquanto vigente.
Hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, niclosamida, levamisole, azitromicina, entre outras drogas, estão sendo utilizados para prevenir e combater a Covid-19. Embora nenhum desses fármacos tenha mostrado evidência científica, eles estão sendo prescritos à revelia.
Quando um medicamento é disponibilizado e existe a hipótese que ele funcione, pode acontecer de um médico querer prescrevê-lo para o seu paciente. Em alguns casos, o profissional decide tratá-lo por acreditar que o doente possa vir a se beneficiar de um determinado fármaco não aprovado para a situação em questão. Esse procedimento é conhecido como “off label”, que significa “fora da bula”.
Dentro da lógica, existem três aspectos que enfraquecem a crença na eficácia de drogas usadas contra o coronavírus.
Do ponto de vista histórico, devemos lembrar que a cloroquina foi largamente utilizada para tentar frear o avanço da gripe espanhola, em 1918. Ainda assim, morreram 50 milhões de pessoas, vítimas daquela nefasta pandemia.
Analisando pela ótica social, não podemos esquecer que, com exceção da Venezuela e dos Estados Unidos, o Brasil é o único país que acredita ser capaz de prevenir e extirpar a Covid-19 com drogas sem comprovação científica.
Apesar do uso desses fármacos supostamente eficazes, a verdade é que a pandemia se alastra pelo País, deixando evidente que a resposta do sistema imunológico de cada paciente está sendo confundida com o efeito benéfico desses remédios. Além disso, devemos questionar por que a comunidade médica internacional não se vale de “antivirais”, investindo apenas na busca da vacina salvadora?
Sob o prisma científico, todo acadêmico de medicina sabe que nenhuma droga elimina vírus, quando muito, ela reduz a carga dessa minúscula partícula dentro do corpo.
Pelo fato do vírus precisar do código genético da célula para se replicar, qualquer antiviral acabaria destruindo a própria célula, tentando atingir o vírus. Seria como “atear fogo num apartamento para matar uma barata”.
Apesar desses argumentos, a falta de opção para vencer o coronavírus acaba sendo substituída pela fé de que algo possa destruí-lo. Incapaz, enquanto ser humano, ninguém prova a existência do Criador, mas acreditar gera um enorme efeito terapêutico. Não crer em Deus alimenta a angústia do vazio.
A lógica da medicina se torna inútil perante o medo que desespera. Para o afogado, jacaré é tronco.
Diante da imprevisibilidade da morte causada pelo coronavírus, errar nunca foi tão humano!