Os fungos do Hospital Santa Rita
A vida oculta dos fungos revela a delicada fronteira entre equilíbrio, parasitismo e risco
Dr. João Evangelista
Hospedados nos caules e nas folhas das árvores que crescem em meu quintal, os fungos causam um misto de encantamento e espanto, com suas infinitas possibilidades de formas e de cores. Sua vida misteriosa parece breve aos nossos olhos, mas eles seguem existindo muito além do que somos capazes de captar, transformando e decompondo a matéria como a conhecemos.
Contemplo a existência desses seres, ao mesmo tempo tão discreta e tão fundamental para a manutenção do equilíbrio da vida no planeta. Nessa sutileza, que ocorre de maneira silenciosa, eu percebo certa insubordinação. Adornando as plantas que crescem, os fungos atuam como organismos de interação entre a vida e a morte.
Essas misteriosas criaturas existem como leveduras, fungos ou ambas as formas. As leveduras consistem em células solitárias que se reproduzem por brotamento. Os fungos ocorrem em filamentos, também conhecidos como hifas, que se estendem por alongamento apical.
Os fungos dimórficos crescem como bolor no ambiente, como células de levedura ou semelhantes a sacos, sendo a forma reprodutiva dessas estruturas.
A relação entre fungos e plantas é a simbiose mutualística, onde fungos se associam às raízes das plantas, visando trocar benefícios.
Os fungos ajudam a planta a absorver água e nutrientes do solo, enquanto esta fornece carboidratos para eles, resultado da fotossíntese. Entretanto, como também acontece no ser humano, alguns fungos costumam agir como parasitas, gerando doenças nas plantas.
Infecções fúngicas primárias são aquelas que se desenvolvem em hospedeiros imunocompetentes, tanto plantas como animais. Oportunistas são as infecções fúngicas que se manifestam em hospedeiros imunocomprometidos. Ambas podem se apresentar de forma local ou sistêmica.
Meu limoeiro está coberto pela “fumagina”, fungo que cresce sobre o melado secretado por pulgões. Por si só, ele não ataca a planta, mas envolve as folhas, impedindo a fotossíntese e prejudicando seu desenvolvimento.
Esse tipo de parasitismo lembra aquela micose que contraímos na praia, que cede com um antimicótico.
Todavia, na planta debilitada e ou no animal imunocomprometido, o fungo adquire o status de organismo oportunista.
Na Histoplasmose capsulatum, por exemplo, o fungo pode se tornar invasivo, se espalhando pelos pulmões e outros órgãos do corpo, como fígado, baço, medula óssea, glândulas adrenais e, em casos graves, o si stema nervoso central. É uma condição patoló gica potencialmente fatal, caso não seja debelada.
Recentemente, surgiu uma colônia de Histoplasma no Hospital Santa Rita, encontrada nos filtros dos aparelhos de refrigeração. O Histoplasma costuma crescer na poeira contaminada com fezes de pássaros ou morcegos.
Funcionários e acompanhantes do hospital foram os mais afetados, sendo que a maioria apresentou sintomas leves. Alguns precisaram de terapia intensiva, mas já receberam alta.
Diante da vulnerabilidade, o comensal se torna oportunista.
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Doutor João Responde,por Dr. João Evangelista