“Novas mães vivem desafio”, afirma a ginecologista e obstetra Maria Angélica

| 26/05/2020, 17:26 17:26 h | Atualizado em 26/05/2020, 17:36

A chegada do primeiro filho transforma a vida da mulher. Ela precisa se adaptar para se redescobrir como mãe, o que naturalmente desperta inúmeras dúvidas e incertezas. O bebê está bem alimentado? Por que está chorando? Esse comportamento é normal?

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-05/372x236/maria-angelica-ginecologista-4a3bd09ec50951bd56b8b35d718f1dd6/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-05%2Fmaria-angelica-ginecologista-4a3bd09ec50951bd56b8b35d718f1dd6.jpeg%3Fxid%3D123890&xid=123890 600w, A médica Maria Angélica revela que houve mudanças na relação da mãe com o bebê em função da pandemia

Em meio à pandemia da Covid-19, a experiência da maternidade se tornou ainda mais desafiadora. Além das mudanças esperadas, as mulheres ainda têm que lidar com o medo de se infectarem e contaminarem os recém-nascidos.

A ginecologista e obstetra Maria Angélica já realizou mais de 7 mil partos e tem acompanhado mulheres vivenciando esse novo temor. A médica destaca que o momento exige cuidados redobrados com mãe e filho.

“Uma semana após o parto, a mulher já vivencia uma angústia devido a transformação na vida dela. É muito importante que ela receba suporte emocional”, diz. “O coronavírus faz ser ainda pior.”

A pandemia também está prejudicando a “Hora de Ouro”, os primeiros 60 minutos de contato entre mãe e filho após o parto. Segundo a médica, o toque foi reduzido e a mãe amamenta de máscara.

Ainda assim, Maria Angélica observa aprendizados neste cenário. Com a família isolada para se proteger, vínculos entre mãe, pai e filho tendem a se fortalecer.

A Tribuna – Mães de primeira viagem contam muito com rede de apoio para se adaptar à nova realidade. Mas, com a necessidade do distanciamento, como estão conseguindo esse apoio?
Maria Angélica – A mãe costuma ser a maior companheira nesse momento. Então algumas mães das mães – as avós – entram em isolamento antes do nascimento e outras fazem teste para confirmar que não estão com a Covid-19 para, assim, poderem acompanhar a filha mais de perto. Técnicas de enfermagem estão indo à casa das pacientes. Além disso, os maridos estão bem atuantes.

A Tribuna – Como a pandemia está impactando a chegada de um novo membro na família?
Maria Angélica –
O nascimento de um bebê é sempre um momento de alegria familiar. É um momento público, não apenas do casal.

Os pais preparam mimos para apresentar socialmente a criança, mas, com o coronavírus, isso está sendo impedido. Então a mãe se sente privada de um sonho, pois não está mais podendo compartilhar essa experiência com quem a acompanhou durante toda a gravidez.

A Tribuna – Houve mudança no protocolo durante a permanência no hospital?
Maria Angélica – Sim. A paciente não pode receber visitas, apenas um acompanhante. Ela fica restrita ao quarto e deve usar máscara boa parte do tempo.

Mudou também a dinâmica do atendimento. Antes a enfermagem tinha mais tranquilidade em relação a tocar no paciente, para acalentar e ajudar a posicionar o bebê para amamentar. A enfermeira continua orientando, mas se faz tudo a distância por precaução.

A Tribuna – Qual é a maior preocupação das grávidas neste momento?
Maria Angélica – A maior preocupação é pegar o vírus. As mulheres estão isoladas, mas vão ter que sair do isolamento e ir ao hospital, onde há risco de contágio.

A Tribuna – Mães já experientes estão vivendo angústias com a chegada do filho neste cenário?
Maria Angélica – Todas as mães estão preocupadas. Estamos no auge da pandemia, e o vírus é altamente contagioso.

A Tribuna – Já se avalia sobre como essa nova dinâmica das famílias deve impactar nas crianças?
Maria Angélica – 
Ainda é recente para saber a repercussão a longo prazo no novo modelo de família que está sendo formado, mas haverá impacto.

A Tribuna – Qual aprendizado deve ser tirado deste momento?
Maria Angélica – 
As mulheres estão vivendo uma maior percepção do bebê, percebendo ele se mover no útero e compartilhando isso com o marido. A troca está mais intensa.

Ainda estamos nos reinventando de forma a aproximar as relações e a melhorar o vínculo mãe-pai-bebê. Ainda adquirimos novas formas de cuidar, de ensinar e de aprender que deverão ser mantidas depois.


QUEM É


Maria Angélica Belonia
- Tem especialização em ginecologia e obstetrícia.
- Possui mais de três décadas de vivência na medicina.
- A médica já realizou mais de 7 mil partos.
- É professora da Universidade Federal do Espírito Santo no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia desde 1997.
- Durante a pandemia, Maria Angélica está acompanhando e orientando o pré e o pós-parto também via ferramentas digitais.

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