Golpe do investimento dá prejuízo de R$ 30 milhões a 50 vítimas
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Bem articulados, com promessa de lucros atraentes e rendimentos superiores aos de mercado, falsos assessores de investimento têm deixado um rastro de prejuízos em vítimas de todas as faixas etárias.
No comando da Delegacia de Defraudações e Falsificações (Defa), o delegado Douglas Vieira caça quadrilhas que deram golpes de mais de R$ 30 milhões em mais de 50 vítimas da Grande Vitória.
Ao traçar o perfil das vítimas, ele disse que são “pessoas esclarecidas”, de classe média alta, de ambos os sexos, entre as quais empresários, médicos, engenheiros, advogados e aposentados.
O delegado explica que os criminosos vão captando investimentos e pagando os juros, para ganhar a confiança das vítimas. Os clientes, por sua vez, satisfeitos com o negócio, vão fazendo propaganda de “boca a boca”, e os vigaristas vão ganhando novos clientes.
Só que o drama começa quando essas pessoas precisam sacar valores mais altos. “Eles usam a desculpa de que o investimento não deu o retorno esperado, que as ações despencaram e, para ganhar tempo, dizem que todo o valor investido foi perdido”.
Sobre o “ganhar tempo”, o delegado explica: “O crime de estelionato passou a ser processado mediante a representação da vítima em até seis meses. Se passar desse prazo, ele não responderá mais pelo crime. Por isso, se desconfiar de que está sendo vítimas de uma farsa, procure logo a polícia”.
A maioria faz promessa de investimento na bolsa de valores. Mas há casos em que eles perguntam se as pessoas não querem usar o dinheiro para investir em negócios ou fazer investimentos no exterior.
“Eles não perdoaram nem uma idosa de 83 anos, que perdeu todas as economias que juntou: mais de R$ 250 mil. Ela foi apresentada ao falso assessor de investimento por amigos em comum da filha e agora está no prejuízo”, contou.
Engrossam as estatísticas de vítimas sete amigos, que investiram aproximadamente R$ 1 milhão para abrir uma cervejaria na Grande Vitória. Ao perceber a farsa, eles procuraram a polícia para denunciar.
O delegado reforçou que a polícia vem prendendo criminosos. Um deles, no mês passado. Ele é acusado de dar golpe em pelo menos 10 vítimas, de R$ 20 milhões.
Ao menos 10 empresários perderam R$ 1 milhão
Iniciada há um ano, uma investigação levou a polícia a identificar acusados de aplicarem golpes em 10 empresários. Juntos, eles perderam mais de R$ 1 milhão na farsa de falsos investimentos.
Felipe Morais Correia, de 34 anos, era o cabeça do esquema e está foragido. A mulher dele, identificada como Aline Carlesso Bianchessi, de 29 anos, foi presa. O comparsa do casal, de 36 anos, também está atrás das grades.
O criminoso, que se apresentava nas redes sociais como “trader”, ou seja, um investidor, prometia altos lucros para as vítimas, que transferiam dinheiro para ele, na esperança de receberem até 10% do valor por mês.
O problema é que o golpista não investia o dinheiro das vítimas no mercado financeiro: ele, junto com a mulher e o comparsa, sacavam as quantias recebidas e sumiam.
A polícia tomou conhecimento do caso há um ano, momento em que as investigações começaram. “O Felipe começou criando grandes grupos nas redes sociais, e cada pessoa investia valores pequenos. Porém, ele foi aumentando essa rede e começou a abordar empresários”, explicou o delegado Leandro Sperandio, da Delegacia de João Neiva.
A maioria das vítimas era da região de João Neiva, Ibiraçu e Aracruz. Elas chegaram a investir de R$ 50 mil a R$ 300 mil. Para aumentar a credibilidade, Felipe tinha um escritório em Vitória, onde se reunia com os alvos do golpe.
“Ele prometia até 10% mensais de lucro para a vítima, que transferia o dinheiro para a conta dele, com a promessa de que ele faria os investimentos. Ele chegou a criar um aplicativo, dando login e senha para que as vítimas conseguissem acompanhar os rendimentos diários, mas era tudo falso. Ele que alimentava com dados da forma que ele queria”, revelou o delegado.
A vítima olhava os valores no aplicativo e chegava a solicitar um saque, mas, na hora de pegar o dinheiro, via que não tinha mais nada. Só aí é que percebiam que tinham caído num golpe.
Saiba mais
Como é o esquema
Rendimentos
- Atraídos por rendimentos maiores que os de mercado, em sua maioria de 2% a 2,5% ao mês – a poupança rende 3,68% ao ano – muitas pessoas, geralmente de classe média alta, têm optado por outros investimentos.
- É aí que entram em cena os falsos assessores de investimento, que prometem vantagens em aplicações em bolsa de valores, investimento em negócios, como abrir uma empresa ou até investir o dinheiro no exterior. Com promessas de lucro alto, fazem muitas vítimas.
Pagamento de juros
- Para ganhar a confiança das vítimas e ampliar a carteira de clientes, os falsos assessores de investimento vão pagando os juros.
- Alguns criam até aplicativos para que o cliente possa acompanhar os rendimentos diários. Só que tudo não passa de uma farsa, já que o criminoso é quem alimenta a plataforma com dados irreais.
Investigações
- Na Delegacia de Defraudações e Falsificações (Defa) há investigações de quadrilhas que deram golpe de mais de R$ 30 milhões em mais de 50 vítimas da Grande Vitória.
Prisões
Capixaba preso na Itália
- Alguns criminosos já foram presos, a exemplo do capixaba Felipe Médici Toscano, de 35 anos, acusado de um golpe milionário. Ele foi preso na Itália. A prisão foi em 2018, mas em maio deste ano ele foi extraditado e levado para um presídio no Estado.
- Ele foi acusado à época de aplicar um golpe de R$ 29 milhões em três vítimas. Só que o delegado Douglas Vieira contou que após essa prisão, outras 10 pessoas o denunciaram dizendo que também foram vítimas.
Cadeia após golpe milionário
- No mês passado, o delegado Douglas Vieira prendeu um homem de 52 anos que se apresentava como assessor de investimentos na Grande Vitória. Ele é suspeito de estelionato ao praticar golpes em pelo menos 10 vítimas, que teriam perdido juntas cerca de R$ 20 milhões.
Indícios de fraude
- A empresa não é cadastrada nos órgãos reguladores: não está no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou Banco Central;
- Promessa de ganhos muito acima da média de mercado e sem riscos: a rentabilidade prometida geralmente é muito acima dos investimentos tradicionais;
- Falta de informações: os investimentos não são registrados em nome do cliente e nunca há menção do produto no qual está recebendo os investimentos.
Dicas para não cair em golpes
- Abrir uma conta em uma corretora de valores é o primeiro passo para investir, pois elas são responsáveis por intermediar a negociação de ativos entre o investidor e a bolsa de valores. Nunca faça depósito em conta pessoal ou de empresa;
- para se proteger desse de golpe faça apenas investimentos com instituições ou profissionais certificados e registrados no Banco Central, na Comissão de Valores Mobiliários, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais e Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias.
- Procure os dados e cheque-os no site da Receita Federal para ver se são verdadeiros.
- Se foi vítima, denuncie na delegacia mais próxima ou na Delegacia de Defraudações, que fica na avenida Marechal Campos, nº 1.236, Bonfim, Vitória, de 2ª a 6ª, das 8 às 18 horas.
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