Filhos mais dependentes dos pais preocupam as famílias

Entre os especialistas, o temor é que a nova geração sofra com prejuízos no futuro devido à falta de estímulos em casa

Lorrany Martins, do jornal A Tribuna | 18/10/2021, 17:31 17:31 h | Atualizado em 18/10/2021, 17:31

Ser capaz de assumir compromissos e de prestar contas diante de autoridades. É isso que muitos pais desejam para   seus filhos no futuro.   Mas crianças e adolescentes cada vez  mais dependentes são motivo de preocupação para famílias e especialistas. 

A psicopedagoga Mônica Monteiro explica que, de  modo geral, o ser humano se sente dependente de algo ou   alguém. 

“Isso não é ruim e, em alguns momentos, é necessário. Porém,  se os pais não souberem o tempo correto de dar autonomia, a criança não terá estímulos positivos para desenvolver sua  identidade e autoconfiança, se tornando futuramente um adolescente inseguro e um adulto com  traumas e medos”.  

 Para a especialista em Educação Janaína Spolidorio, é  nítido que os filhos estão mais dependentes dos pais. “A grande preocupação é que isso afeta o desenvolvimento pessoal, cognitivo e social deles, trazendo prejuízos a sua qualidade de vida. Além disso, a dependência causa  problemas de questões emocionais ligadas ao fracasso”.

O processo de autoconhecimento também pode ser afetado, segundo a  psicóloga Talita Espíndula, especialista em crianças e educadora parental. “Sempre será necessário ter alguém para dizer o que é melhor ou não”. 

 Essa condição de dependência, porém,  não é exclusiva da   nova geração, salienta  o consultor de carreira com foco em gerações Sidnei Oliveira. 

“É, na verdade, uma mudança cultural profunda na  sociedade moderna, que foi a criação de famílias menores, com uma dedicação muito provedora para esses filhos. Isso começou na década de 80 e vem se intensificando a cada década, o que cria uma geração de  dependência dos pais”, explica. 

 Na avaliação da   psicóloga clínica e comportamental  Osmarina Vyel, esse cenário forma  jovens enfraquecidos, sem opinião  própria, sem noção de esforço para planejar e executar tarefas simples. 

“A pergunta é: como será construída uma sociedade com seres tão enfraquecidos? Será que eles vão sair da dependência dos pais e vão para dependência artificial?”, questiona Osmarina. 

“Noto que  os pais estão despreparados para lidar com estes jovens, que são inteligentes e ágeis na tecnologia, mas não estão sendo preparados para a vida prática do dia a dia.  Estamos criando crianças  para um mundo que não é real”, alerta a psicóloga.

Excessos na internet podem aumentar a insegurança

No Brasil, 89% das crianças e dos adolescentes são usuários de internet e passam mais de cinco horas por dia, em média,  conectados por celular, tablet ou computador. 

Além dos prejuízos  que o excesso na internet pode trazer à saúde, o comportamento contribui para a insegurança e a dependência, segundo os especialistas. 

“As redes sociais mostram uma realidade que não condiz com o mundo real. Traz transtornos de personalidade, de imagem corporal, onde o adolescente vive um mundo em que todos parecem ser melhores do que ele, mais magros, ricos e saudáveis. E não é assim”, observa a pediatra Karoliny Veronese. 

O acesso cada vez mais livre às redes sociais contribui para a insegurança do adolescente em todos esses aspectos e   incentiva ainda mais o comportamento prejudicial,  explica a psicóloga  Rubia Passamai Navarro. 

 “Os pais, diante da insegurança, dos perigos e das dificuldades do mundo contemporâneo, tendem a ser mais superprotetores”, observa Rubia. 

“Somado a isso, estamos vendo crescer a geração das redes sociais, que têm mais experiências virtuais do que reais e se priva dos prazeres e dos desprazeres que o viver de verdade proporciona”, completa. 

Com isso, segundo a especialista em Educação Janaína Spolidorio, as crianças ficam dependentes  das telas e da família. 

“As redes acabam orientando um mundo falso para a criança e sua vivência entra em choque com o que se vive por lá, fazendo com que o mundo digital comece a fazer mais sentido, pois é o mais vivenciado pela criança e não demanda autonomia de vida”.

Aposta em acordos

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Para o casal  Laura Pacheco, 48, e João Manuel Pinha Pacheco, 49, investir em uma rotina de tarefas sem sobrecarregar os filhos João Rian Maia Pacheco, de  11 anos,  e Paula Fernanda Maia Pacheco, de 9, é fundamental para que eles sejam independentes e responsáveis. 

“Aqui em casa, apostamos em acordos, em uma linguagem clara e adequada para eles. Temos regras para eletrônicos,  gostamos de estar em contato com a natureza e  exercitamos a responsabilidade”, destaca Laura.

“Mas não é fácil, são muitos desafios. Investimos para conhecerem suas  emoções, conversarem, brincarem,  e para  que sejam mais autoconfiantes”.

Tarefa para cada uma em casa

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A professora  Susane Kelly Santana Moraes, 44,  sempre tenta ensinar as filhas Ana Beatriz Santana Moraes, de 14 anos, e Ana Clara Santana Moraes, de 5, a serem independentes. Para isso, cada uma tem suas responsabilidades e tarefas em casa. 

“Minha filha mais velha   sempre estudou para as provas sozinha, e  faz os trabalhos da escola. Ela arruma seu próprio quarto  e deixa as coisas organizadas para quando eu chegar em casa”, cita a mãe.

A mais nova também tem suas tarefas. “A Ana Clara toma banho sozinha,  se alimenta, arruma seu próprio lanche para a escola, separa e guarda seus brinquedos. Desde muito novinhas, eu ensinei a ter o compromisso de ajudar.  Acredito que, assim, serão muito bem-sucedidas e seguras no que fazem”, salienta Susane.

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