Covid-19: Quem é mais resistente ao vírus?
Para a ciência, pessoas que não se contaminam têm características diferenciadas, como uma poderosa resposta imunológica
Após dois anos de pandemia, é cada vez mais difícil encontrar alguém que ainda não tenha sido infectado pela covid-19. Mas essas pessoas existem e já são alvo de estudos para identificar por que elas são mais resistentes ao coronavírus.
Muitos casos chamam a atenção da ciência, como casais em que somente uma pessoa é infectada e pessoas que testaram negativo mesmo após ter contato direto com diversos positivados.
A genética é vista como um fator determinante, afinal, é ela que também determina quem tem mais risco de desenvolver a forma grave da doença. Com isso, os estudos buscam identificar os genes que garantem essa “superproteção”.
Os estudos apontam para características que vão desde a ausência do receptor que permite a entrada do vírus na célula até uma poderosa resposta imunológica.
Um exemplo são as pessoas que possuem células T protetoras, que reconhecem e matam as células infectadas pela covid. Elas foram identificadas, por exemplo, em profissionais de saúde expostos ao vírus mas que nunca positivaram.
Mesmo assim, eles possuíam as células protetoras. Ou seja, assim que o vírus entrava no corpo, ele era combatido e eliminado.
A doula Patrícia Rohsner, 62, é um exemplo. Ela teve contato direto com três gestantes infectadas e chegou a passar 15 horas com uma delas, e mesmo assim não contraiu. “Quase não fico doente, acho que a imunidade é o diferencial”.
O estudo pode ajudar no desenvolvimento de imunizantes que ensinam o corpo a produzir células T, que geram imunidade por anos.
Outro estudo foi feito pela Universidade de São Paulo com casais em que um pegou e o outro não. Ficou concluído que as mulheres são mais resistentes e transmitem menos a doença que os homens.
“Queríamos saber se é por que os homens se cuidam menos ou se é biológico. O estudo foi feito para descartar o fator comportamental. Os homens têm a caixa torácica maior e falam mais alto, transmitindo mais pela saliva. Eles também têm carga viral até 10 vezes maior na saliva do que as mulheres. Além de ter forma mais grave, transmitem mais”, afirmou a diretora do Centro de Estudo em Genoma Humano da USP, Mayana Zatz.
NEGATIVO
Boa imunidade
Durante a pandemia, o jornalista Leonardo Saimon Lacerda, 27 anos, foi tendo contato com pessoas que contraíram a covid-19. “Inúmeras vezes”, como ele frisa.
“Eu sempre me pergunto o porquê de não ter sintoma e não ter sido contaminado, mas não faço ideia do motivo”, contou Leonardo, que fez três testes, todos negativos.
“Atribuo à boa imunidade. Mas, mesmo assim, tomei as três doses da vacina. Ninguém é de ferro, então, se um dia eu pegar, estarei imunizado”.
SAIBA MAIS
Células T protetoras
São células que reconhecem e matam as células infectadas pela covid-19.
Um estudo mostrou que profissionais de saúde que foram expostos ao coronavírus no trabalho, mas não foram infectados, tinham um sistema imune que conseguia controlar o vírus.
As células T protetoras foram identificadas nesses profissionais. Ou seja, assim que o vírus entrava no corpo deles, ele era combatido e eliminado antes de replicar no corpo.
O estudo pode ajudar no desenvolvimento de imunizantes que ensinam o corpo a produzir células T, que geram imunidade por anos.
Mulheres resistentes
Casais discordantes, aqueles em que uma pessoa pega a doença e a outra não, foram estudados pela Universidade de São Paulo (USP).
Ficou concluído que as mulheres são mais resistentes e transmitem menos a doença que os homens.
Já os homens desenvolvem mais as formas graves da doença e também transmitem mais.
Nos casos em que os dois foram contaminados, eles foram os primeiros a contrair a doença na maioria das vezes.
Os homens têm a caixa torácica maior e falam mais alto, transmitindo mais pela saliva.
Eles também têm carga viral até 10 vezes maior na saliva do que as mulheres.
NK
Pessoas que não adoeceram têm uma ativação mais eficiente de células de defesa conhecidas como exterminadoras naturais ou NK (natural killers, em inglês).
Tipo sanguíneo
Estudo realizado na China, ainda em 2020, concluiu que o tipo sanguíneo A está mais associado a um maior risco de contrair o vírus.
Já o tipo O oferece uma pequena redução do risco.
Ainda não se sabe o que explica esse efeito protetor do tipo sanguíneo.
Receptor ACE2
Há indícios de que algumas pessoas são naturalmente mais resistentes e tenham tipos raros de ACE2 – receptor usado pelo vírus para entrar nas células, aos quais a proteína spike do coronavírus não pode aderir.
Algumas pessoas têm mutações genéticas que fazem com que o receptor ACE2 não seja funcional, e com isso tenham uma redução do risco de infecção.
Fonte: Universidade de São Paulo (USP), revista Nature e pesquisa AT.
Comentários