Brasileiros estão trocando refeições por coxinha e pastel para economizar

Salgados têm substituído o prato tradicional de comida dos brasileiros devido à crise econômica que afeta o país desde 2020

Jonathas Gomes | 12/03/2023, 10:42 10:42 h | Atualizado em 12/03/2023, 10:45

Aos poucos, desde 2020, as refeições foram se deteriorando: primeiro, a carne foi substituída por embutidos; depois, sumiu dos pratos; agora, o cenário é ainda mais apavorante: a coxinha, o quibe e o pastel já substituem o arroz, o feijão e a carne no dia a dia dos trabalhadores.

A constatação foi feita pela consultoria Kantar, que monitora o consumo de alimentos e bebidas fora de casa nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Fortaleza, Curitiba e Porto Alegre. 

De acordo com a pesquisa, em 2022, foram vendidos 170 milhões de salgados a mais do que em 2019, antes da pandemia, enquanto o consumo de refeições, como arroz, feijão e carne, diminuiu em 247 milhões de unidades.

A nutricionista e doutora em Saúde Coletiva Polyana Romano relembra que a insegurança alimentar aumentou vertiginosamente por conta da pandemia da covid-19.   

"Não é uma troca saudável, podendo causar vários problemas de saúde, como aumento do colesterol, diabetes  e hipertensão. Os lanches não fornecem os nutrientes necessários para a  saúde, apenas calorias vazias e, em sua maior proporção, carboidratos simples e gordura".

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/130000/372x236/inline_00136210_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F130000%2Finline_00136210_00.jpg%3Fxid%3D503928&xid=503928 600w, O pintos Izaias Freitas, 38, reclama da queda de renda após a pandemia: "Está tudo mais caro. Um prato feito no centro de Vitória custa, em média, R$ 20. Várias vezes, dormi sem um salgado ou jantar. É uma situação muito complicada"
 

Para o mestrando em Políticas Públicas na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e consultor do Tesouro Estadual, Eduardo Araújo, é necessário que se invista não só em políticas de assistência social para as famílias carentes: para reverter este cenário da insegurança alimentar, o País necessita de reformas econômicas estruturais. 

"Há uma combinação de fatores, com o desemprego e a desaceleração da economia brasileira, nos últimos anos, como principais motivos. Precisamos de uma política pública ativa para garantir a assistência social e, também, de políticas para a prosperidade econômica, como a reforma tributária".

Desde 2015, o Brasil voltou para o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), com um agravamento do problema na pandemia: 33,1 milhões  não têm garantido o que comer, aponta o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de covid-19.

SAIBA MAIS

Pesquisa

  • Os trabalhadores estão substituindo refeições com arroz, feijão e carne, por exemplo, por salgados prontos, como coxinha, pastel e quibe. Em 2022, de acordo com  pesquisa, foram vendidos 170 milhões de salgados a mais do que em 2019, antes da pandemia, enquanto o consumo de refeições, como arroz, feijão e carne, diminuiu em 247 milhões de unidades. 
  • Outro estudo demonstrou que os salgados prontos correspondiam a 11% dos alimentos e bebidas consumidos fora de casa em 2019, enquanto em 2022 a porcentagem alcançou 15%. Em contrapartida, as refeições encolheram: de 7% para 4% no mesmo período. 
  • A substituição foi puxada pelas classes sociais C, D e E.
  • Em 2022, 33,1 milhões de pessoas não tinham  garantido o que comer, o que representa 14 milhões de brasileiros a mais vivenciando a situação.
  • Mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave.

Fonte: Kantar, Consumer Insights e Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de covid-19 no Brasil.

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