Marvel bombardeia as bolhas de felicidade
Não é indesculpável querer evitar o que pode nos causar sofrimento, mas algo está errado quando diariamente milhões de pessoas no mundo inteiro vão se juntando a uma legião de “vidas virtuais”, construindo mundos apartados da realidade em redes sociais e videogames.
A Marvel, do alto de seus 20 bilhões de dólares arrecadados com a mais bem-sucedida sequência cinematográfica da história, dá sua cutucada no assunto com a série WandaVision, em cartaz, a conta-gotas, no Disney+.
Críticas de gente de peso, como Martin Scorsese e Copolla - que acusaram o estúdio de não fazer filmes, mas de criar parques temáticos para a tela do cinema -, não abalaram (por que abalariam?) o mais lucrativo núcleo de produção de Hollywood, que segue explorando os personagens que dominaram as bilheterias mundiais por mais de uma década.
Agora, com a missão de ajudar a sustentar a audiência do serviço de streaming da casa do Mickey (caro e com poucas atrações, a ponto de ser chamado de “Disney Mais ou Menos”), os chefões fizeram o pessoal dos roteiros suar nos teclados, e o resultado é no mínimo intrigante, com uma óbvia crítica à vida moderna e seus esconderijos para fugir à realidade.
Pode-se, inclusive, dizer que os produtores estão advogando em causa própria: deixar de ir ao cinema é uma consequência perceptível da variedade quase infinita de opções nos dispositivos tecnológicos, cada vez mais populares.
Certo é que no ramo do entretenimento a guerra pelo tempo e dinheiro do público vai se acirrar cada vez mais, com grandes grupos disputando dígito a dígito a audiência. Nessa guerra, vale os grandes estúdios tentarem tirar o pessoal de suas bolhas pessoais. No caso, para ir ao cinema ver o próximo big lançamento da Marvel.