A tragédia silenciosa da educação brasileira na pandemia
A maior crise humanitária da nossa história geracional, a pandemia da Covid-19, parece ainda estar longe do fim. Segundo dados publicados no último dia 1º de maio pelo consórcio de veículos de imprensa, apenas 7,40% da população do País foi imunizada com duas doses de vacina, num total de 15.677.543 pessoas, cujos dados passaram a ser acompanhados a partir de 21 de janeiro deste ano.
A grave crise do novo coronavírus faz silente, mas trágica a realidade da educação brasileira. Os prejuízos para aprendizagem são enormes. Estudos recentes apontam que chegamos ao padrão de evasão escolar não visto no Brasil desde 2003.
O abandono dos estudos tem atingido todos os níveis de ensino, do infantil ao ensino superior. Segundo pesquisa realizada pelo C6 Bank/Datafolha, os casos de evasão são provenientes de três aspectos centrais: 1) dificuldade de renda familiar; 2)falta de acesso às aulas e; 3) dificuldades com ensino remoto.
A pesquisa aponta que 19% ficaram sem condições de pagar a escola ou faculdade e 7% precisaram ajudar na renda familiar. Outros 22% abandonaram os estudos por terem ficado sem aula e 20% relataram dificuldade com o ensino remoto.
Segundo dados do Data Favela, mais de 55% dos alunos que moram em favelas e periferias não estudaram no último ano. Informação que escancara uma face pouco propagada, que atinge especialmente os mais vulneráveis.
Os dados demonstram que junto com problemas de renda mínima familiar e dificuldades do ensino remoto, a acessibilidade é o buraco mais profundo nesta crise, e o que afeta em cheio, principalmente, os mais pobres.
Falta de acesso as aulas presenciais em função do contágio da grave doença, mas também há situações de indisponibilidade de internet e pacote de dados que permitam o simples acesso às atividades online.
A evasão escolar e problemas de aprendizagem impactam diretamente a economia dos países, os índices de violência e até a expectativa de vida da população. Outra pesquisa, da Fundação Roberto Marinho, revela que cada jovem que abandona a escola, o país perde R$ 372 mil de PIB no ano. E que a redução de um ponto percentual nos índices de evasão pode evitar cerca de 550 homicídios. Os brasileiros com educação básica completa têm, em média, quatro anos a mais de vida do que quem abandonou os estudos.
Vivenciamos um momento gravíssimo, pois não havia condições e bases de preparo para o momento de necessária suspensão das atividades escolares presenciais, em função da gravidade da transmissão da Covid-19.
Diante deste quadro trágico, será necessário um grande pacto pela aprendizagem no pós-pandemia, que passa pelo envolvimento decisivo da sociedade civil e pelo exercício responsável de liderança, na priorização de uma década inteira pela educação.
RAFAEL GUMIERO é mestre e doutor em Administração, gestor executivo na Ufes junto à Diretoria de Inovação.