A sabedoria é uma bênção
O pensamento contemporâneo é formado a partir de várias informações difundidas por múltiplas plataformas, atingindo o público pela linguagem textual, imagética, e sobretudo, digital.
A velocidade de propagação desses conteúdos é impactante, causando picos de informação, mas nenhuma criticidade.
Isso acontece, pois os conteúdos são direcionados por algoritmos, influenciando diretamente o feed de notícias de cada um, mas que não proporcionam uma construção ampla de conhecimente e, sim, o reforço de opiniões já existentes.
O excesso de informações direcionadas, de forma personalizada, provoca uma desvalorização do conhecimento, pois criamos uma dicotomia entre opinião e saber, como se a expertise de um especialista não fosse válida, mas a mensagem recebida no grupo de WhatsApp sim.
Anos de estudo são menosprezados para defender um ponto de vista. Nesse contexto, é preciso diferenciar informação de conhecimento, para Richard Crawford, “informação pode ser encontrada numa variedade de objetos inanimados, desde um livro até um disquete de computador, enquanto o conhecimento só é encontrado nos seres humanos”.
A informação é um conjunto de dados e conteúdos, que serve como referência a uma determinada situação.
O conhecimento é a habilidade de fazer conexões a partir dessas informações, de forma dinâmica, que exige de cada um de nós, criatividade e criticidade, para acessá-lo, apreendê-lo e replicá-lo.
O que deveria ser algo positivo, pois a virtualização dos sistemas possibilita uma construção da sociedade com visões plurais, se tornou um problema, pois as subjetividades têm sido distorcidas por interesses econômicos e políticos.
Uma parcela da sociedade tem rejeitado pesquisas científicas e a expertise de profissionais, para se apropriar de conteúdos descontextualizados com o objetivo de enaltecer o próprio ego e gerar desconfiança na sociedade.
A valorização da ignorância, de forma sistematizada, provoca graves consequências, como a negação à vacina e a recusa à adoção de medidas sanitárias. Há um ditado popular já internalizado no cotidiano, de que “a ignorância é uma bênção”, e isso precisa ser desconstruído.
O problema não é a falta de conhecimento, mas o “orgulho de não saber”, como diz Tom Nichols.
Um exemplo que enaltece a falta de conhecimento é a escolha por não destinar recursos para a realização do Censo Demográfico. Essa opção provoca escassez de informação sobre características da população e, consequentemente, a falta de conhecimento para a elaboração de políticas públicas.
A falta de transparência sobre o País também gera desconfiança junto à comunidade internacional e pode atrapalhar investimentos de empresas estrangeiras.
Em um mundo cada vez mais conectado, precisamos construir um conhecimento social em que a seleção da informação qualificada seja essencial e constante, desenvolvendo assim um aprendizado consciente e crítico.
Por isso, é sempre importante sabermos: a quem interessa não saber?
FELIPE DALL’ORTO é professor universitário.