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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

A gratidão, o valor do outro, a comunhão da alegria

| 10/03/2020, 06:29 06:29 h | Atualizado em 10/03/2020, 06:31

No leito nada esplêndido de uma civilidade cada vez mais raquítica, virtudes padecem, gestos e verbos da truculência massacram a gramática da consideração, do respeito e da delicadeza. Nessa cadência sombria da decadência iluminista, cruzei há pouco a fronteira do meio século de vida. Efeito colateral da comoção do aniversário, uma intriga me assalta: qual o lugar da gratidão no dia a dia?

Por óbvio, infelizmente o que vejo é um crescente deserto de ingratidão a incrementar a aridez do cotidiano. Mas por que, como praga, a escassez de gratidão se alastra?

Talvez porque a gratidão só vigore mesmo numa realidade de reconhecimento do outro como semelhante. E, nesta sociedade perversa, doente de individualismo crônico, o semelhante é cada vez mais visto como mero objeto de uso, cuja principal função é servir a quem tudo merece e a nada se obriga, ainda que seja um simples “obrigado”.

Outra interdição à gratidão, no reino da perversão, é o fato de que ser grato implica reconhecer-se necessitado do outro, enxergar-se sujeito faltante – fim do mundo para metidos a autossuficientes.

Horrorizado das fragilidades estruturais do existir humano, e incapaz de lidar com o fato de que ninguém é causa absoluta de si mesmo, tal contingente prepotente agarra-se a instáveis crenças idealizadas de onipotência, sustentadas ao custo de insistente negligência do valor do outro.

Comte-Sponville, para quem a “gratidão é a mais agradável das virtudes”, “não nos tira nada” e se configura como “amor retribuído”, afirma que só os egoístas dela se distanciam. “O egoísta é ingrato não porque não goste de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a outrem”.

Ser grato é admitir voluntária e serenamente a generosidade do outro, reconhecendo-lhe a graça ofertada. Gratidão é compartilhar com quem nos deu a mão um pouco da satisfação obtida, “como um eco de alegria à alegria sentida, como uma felicidade a mais para um mais de felicidade”, escreve Comte-Sponville.

Buscando partilhar uma alegria especial, meus 50 anos sob o Sol, fiz um livro de gratidão. “Tempo Contado”, coletânea com 50 textos, terá lançamento beneficente dia 19 de março, das 18h às 20h, no Teatro Universitário, na Ufes.

Mediante doação ao Asilo dos Idosos de Vitória, os presentes vão receber um exemplar da edição, que é limitada e cujos volumes foram numerados manualmente.

“Tempo Contado” é um aceno de gratidão à vida, que me tem dado tanto, às palavras, que me têm permitido tanto, e aos livros, coautores especiais da história que autonomamente redigi até aqui. E como um escritor só existe na presença do leitor, este livro representa minha especial gratidão a quem me inspira a escrever!

Obrigado pelo privilégio da sua companhia, também partilhada neste espaço, em que, com o exercício das ideias, invisto e insisto numa existência mais humana, com menos horror e mais amor, com menos amargura e mais doçura!


José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Mídia e Cotidiano, professor na Ufes, membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória

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