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Cidades

Paixão pelo mistério dos planetas até chegar à Nasa


Imagem ilustrativa da imagem Paixão pelo mistério dos planetas até chegar à Nasa
Raíssa Estrela e sua equipe identificaram um planeta fora do Sistema Solar que reconstituiu a própria atmosfera |  Foto: Divulgação

O contato com a astronomia na época do ensino médio despertou o desejo de seguir carreira na área. Porém, Raíssa Estrela questionava a própria capacidade.

O fascínio pelos planetas se manteve aceso mesmo quando ela rumou em outra direção e a ajudaram a trilhar seu caminho até se tornar astrofísica e pós-doutoranda na maior agência espacial do mundo: a Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos).

Natural de João Pessoa, na Paraíba, Raíssa Estrela integra a equipe que identificou, neste ano, que um planeta fora do Sistema Solar, chamado GJ 1132 b, reconstituiu a própria atmosfera.

“Quando olhamos para outros mundos, conseguimos entender mais sobre o nosso próprio”, afirma Raíssa. “Podemos fazer conexões com o caso da Terra para entender a habitabilidade nesses planetas e os recursos evolutivos”.

Raíssa enfatiza a importância das descobertas espaciais para a vida na Terra e defende a divulgação do conhecimento científico para todos, inclusive destacando os feitos de pesquisadores brasileiros.
 

A Tribuna – O que te motivou a ser astrofísica?
Raíssa Estrela – O céu sempre me fascinou, mas não ao ponto de pensar em ser astrônoma. Meu interesse começou no ensino médio quando um professor de História mostrou na aula um livro do Carl Sagan, um dos grandes divulgadores da astronomia.

Foi quando decidiu o que queria estudar?
Pensei em fazer Física, curso que me levaria para a Astronomia. Mas fiquei dividida com Ciências Biológicas, que já me interessava antes, para estudar as mudanças climáticas. Optei por Biologia, pois achava que não tinha capacidade de fazer Física.

Como não?
Não era uma aluna exemplar de Exatas. Não tenho facilidade com cálculo e preciso dar mais de mim para entender a matéria.

Um segundo fator é o ambiente predominantemente masculino; não era receptivo para mulheres.
Além dos desafios de seguir carreira científica no Brasil e pensei que teriam mais oportunidades em Biologia. Então optei por Biologia.

Quando mudou de área?
Dentro do curso, surgiram mais chances na área de Física. Estudava na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entrei em contato com professores da área de Astrofísica, até porque existe a junção das áreas, a Astrobiologia, que procura vida em outros planetas. Os professores me ofereceram a oportunidade de iniciação científica, o que me permitiu mudar para Astrofísica após dois anos de curso.

Como foi a sua trajetória até chegar à Nasa?
Conclui o curso em Natal e apliquei para o mestrado na Mackenzie em São Paulo, onde sabia de uma professora trabalhava na área de exoplanetas (fora do nosso Sistema Solar). Depois, no doutorado, fui agraciada com a bolsa Fapesp. Nessa bolsa, temos a oportunidade de fazer o programa sanduíche fora do País para conhecer e se inserir no estudo internacional. Vim para os EUA pesquisar sobre exoplanetas.

Contatei uma professora na Califórnia, que estava ocupada e me recomendou a outro pesquisador que já fazia pesquisa na Nasa. Ele foi receptivo e me chamou para equipe dele.

Ele gostou no meu trabalho e me convidou a permanecer mesmo após o fim do programa. Com a pandemia, conclui o doutorado no Brasil daqui via Zoom.

Sua equipe fez uma grande descoberta recente. Qual foi?

Descobrimos a recuperação da atmosfera em um planeta, o GJ1132 b, que tem mesmo tamanho e densidade da Terra, mas que orbita uma estrela diferente do nosso Sol, muito menor.

Nesse sistema, os planetas orbitam bem perto da estrela, então um ano lá equivale a um dia e meio nosso. Pela proximidade, esse planeta recebe muita irradiação, que é 19 vezes maior do que a Terra.

Essa irradiação induz o escape da atmosfera, o que teria levado à perda completa da atmosfera existente quando o planeta surgiu. Como observamos que ainda há atmosfera, então teria de ter algo regenerando-a.

Nos perguntamos “o que a está mantendo?”.

Já sabem o que é?
Fizemos alianças com pesquisadores de outras áreas para entender quais objetos biológicos poderiam estar por trás dessa regeneração. Um dos colaboradores viu que o vulcanismo pode estar relacionado. Um oceano de magma, que contém hidrogênio, estaria sendo liberado e colocando esse elemento de volta na atmosfera do planeta.
 

Como descobrem o que está acontecendo nos planetas?
Ainda não temos tecnologia para observar o que está na superfície, então observamos a atmosfera do planeta para entender o que está acontecendo embaixo.

Nós esperamos o momento em que o planeta passa em frente à estrela. A luz passar pela atmosfera antes de chegar ao nosso telescópio. Se tem alguma molécula ou átomo, essa molécula ou átomo absorve ou espalha a luz. É como uma impressão digital que colhemos.

Qual a relevância dessa descoberta recente?
Quando olhamos para outros mundos, conseguimos entender mais sobre o nosso próprio: quais processos geram atmosfera nesses outros mundos e como é similar ou não ao nosso próprio sistema. A vida mudou completamente percurso do nosso planeta. Podemos fazer conexões com o caso da Terra para entender a habitabilidade nesses planetas e os recursos evolutivos. A atmosfera é primordial para a vida.

Como o estudo do espaço contribui para a vida na Terra?
Ao olhar planetas vizinhos como Marte e Vênus (também terrestres), eles têm configurações de atmosferas totalmente diferentes devido às suas trajetórias evolutivas.

Marte perdeu quase completamente a sua atmosfera, porque não teve gravidade suficiente para mantê-la. Já em Vênus, a atmosfera é espessa e tem muitos gases estufas. É um planeta muito quente.

Isso serve de exemplo para nós, humanos, que estamos modificando a nossa atmosfera. É uma lição do que não queremos ver acontecer com o nosso planeta no futuro.

Muitas pessoas sequer têm acesso a esse conhecimento. O que fazer para mudar isso?
Precisa ter aproximação da ciência com a população. A ciência no Brasil é desacreditada, o que faz com que muitos não se sintam atraídos ou nem confiem no que é feito no Brasil. Isso é fruto da falta de verba que vem para a ciência.

O conhecimento científico não deve ficar só no meio acadêmico. Tem de ir para as escolas para que mais pessoas tenham acesso.


QUEM É 


Raíssa Estrela

É astrofísica, bolsista de pós-doutorado do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

É doutora e mestre em Ciências e Aplicações Geoespaciais pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Graduada em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Natural de João Pessoa, na Paraíba, a brasileira é integrante da equipe que identificou que um planeta fora do Sistema Solar, o GJ 1132 b, refez sua própria atmosfera.

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