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Coronavírus

Familiares homenageiam idoso morto por coronavírus


Imagem ilustrativa da imagem Familiares homenageiam idoso morto por coronavírus
Marcelino Orlande, de 92 anos, foi uma das vítimas fatais do novo coronavírus |  Foto: Reprodução/Acervo familiar

“Marcelino Orlande, uma vida dedicada à família”. Foi assim, diante de um “enorme vazio” e de muitas saudades, que seus familiares descreveram parte da trajetória de quem sempre será lembrado como um homem amoroso, forte, corajoso, simples, honesto, engraçado e religioso.

Morador de São Domingos, na Serra, o pensionista de 92 anos, morreu na madrugada da última quarta-feira (15) depois de 10 dias internado no Hospital Dr. Jayme Santos Neves, no mesmo município. Foi lá que a família recebeu a confirmação de que ele era uma das vítimas do novo coronavírus (Covid-19).

A homenagem foi repassada à reportagem por uma de suas filhas, a assistente social Rosana Maria Orlandi. “Ele partiu deixando o vinho sobre a mesa que iria saborear na Páscoa, juntamente com um pedaço de torta, como era de costume. Gratidão é a palavra que resume o privilégio de termos convivido com ele”, diz um dos trechos.

Ascendência italiana

Neto de imigrantes italianos, seu avô Giovanni Orlandi veio da província de Verona em 1889 e sua avó Carolina Milanese veio da província de Veneza em 1895. Nasceu no dia 25 de outubro de 1927, em São Sebastião, distrito de Alfredo Chaves.

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Marcelino em uma reunião com os 13 irmãos |  Foto: Reprodução/Acervo familiar

Seus pais Remigio Orlandi e Regina Grobério se casaram em 1921 e tiveram 13 filhos, sendo Marcelino o quarto deles. Naquela época sua família vivia da agricultura.

Sua mãe morreu aos 50 anos e seu pai, aos 58 anos. Casou-se com outra descendente de italianos, “a bela Enilse Dalvi”, em 1958. Teve cinco filhas, sendo que as duas primeiras nasceram na região. A primogênita nasceu prematura e não resistiu. Dizem que as muitas filhas eram tentativas de ter um filho homem. Ele negava.

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Seu Marcelino e a esposa |  Foto: Reprodução/Acervo Familiar

Mudança para a Serra

Na década de 1960, resolveu juntamente com a família e alguns irmãos, deixar a área rural e mudar-se para uma cidade em franca expansão industrial: Serra, fixando-se na sede da cidade.

Já na Serra abriu uma olaria, que não deu muito certo. Sem dinheiro, precisou de um empréstimo bancário, para tentar um novo negócio: um pequeno hotel com restaurante. Validado por um amigo, o empréstimo foi feito. Conseguiu pagá-lo bem antes do prazo final.

O Hotel Orlandi e o restaurante (ficavam na BR-101, mas há alguns anos deixou de funcionar) fizeram sucesso, graças ao trabalho de toda a família e a comida maravilhosa de sua esposa.

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Seu Marcelino e suas filhas: Maura, Maria José, Angela e Rosana (da esquerda para a direita) |  Foto: Reprodução/Acervo Familiar

Amizades construídas

Formou uma rede de amigos para a vida toda, também descendentes de italianos, que se reuniam semanalmente em rodízio de casas para um jogo de cartas “dificílimo” chamado triunfo. Os jogos eram sempre aos gritos e socos na mesa. Não era briga.

Nos últimos anos, ainda jogava cartas com amigos e conhecidos na praça central da cidade.

Amante de festas

“Como bom italiano, adorava uma festa”, revela a família. Sempre alegre, a sua casa estava sempre cheia e animada. Por isso, foi considerado por um sobrinho “o mais italiano dos irmãos”, apesar das irmãs mulheres não ficarem para trás.

Apreciador de um bom vinho e de uma única marca de cerveja, era sempre alvo de brincadeiras por parte da família em relação a isso. Adoravam oferecer outra marca para vê-lo colocar os polegares para baixo como sinal que não estava gostando da festa, o que deixava as filhas com vergonha e os provocadores rindo muito.

Músicas

Em uma família musical - tem duas netas cantoras capixabas profissionais: Maurielle Orlandi, que é cantora gospel, e Laila Orlandi, que tem uma banda -, nas festas não podiam faltar violão, cavaquinho e músicas caipiras de raiz, como o menino da porteira e alguma música italiana que a maioria só fingiam que cantava, por desconhecer a letra.

E o futebol?

Adorava os jogos de futebol. Era capaz de passar horas na frente da TV para assistir aos jogos, mesmo que os já tivesse vistos. Vascaíno e torcedor fanático da Itália, até em jogos de Copa do Mundo, irritava as filhas e os netos. Nem ligava. Quando o Brasil ganhava sempre arrumava uma desculpa para o resultado.

Além dos jogos e como um homem da roça, também gostava de assistir à programas que remetiam à sua memória dessa época. Se divertia com o Programa de Raul Gil e com os episódios do Chaves.

Ficava feliz em passear pelas montanhas capixabas e ficar em pousadas em meio à natureza, com boa comida, bebida, música e boa conversa com outros descendentes. Sentia muitas saudades de sua cidade natal e quando a visitava era sempre com emoção e recheada de grandes lembranças.

Generosidade

Era generoso, mas seguro com relação ao dinheiro, como destaca a família. “Se pediam algum trocado que ele tivesse na carteira, ele dava, mas reclamava. No entanto, os empréstimos não ficavam esquecidos. Se prometessem uma coisa a ele e não cumprissem, esse seria sempre lembrado”, diz um dos trechos da nota.
Gostava de presentear a cada final de ano com uma pequena quantia, as filhas, os netos e depois os bisnetos, o que causava uma alegria geral. Era pelo gesto.

Talento na cozinha

Adorava cozinhar pé de porco no feijão, sua comida preferida. Sim, também cozinhava. Nas festas só queria saber das adoradas empadinhas.

Maior tristeza

Ficou viúvo antes dos 70 anos, sua grande e maior tristeza. Decidiu morar sozinho, mas sempre perto das filhas (todos na mesma rua) e em casas construídas (também era mestre de obras) e presenteadas por ele. Nunca pensou em se casar novamente.

Chorava sempre quando falava da esposa. Ao longo desses anos, também perdeu alguns irmãos e muitos amigos de que gostava muito. Sempre foi um homem preocupado com a família e amigos em situação adversa.

Aniversário de 90 anos

Comemorou com saúde, familiares e amigos suas festas de 80 e de 90 anos. A família dizia que ele iria chegar aos 100 anos. Na festa de 90 anos, emocionou a todos quando contou como sobreviveu a uma doença quando criança graças a uma promessa à Nossa Senhora da Penha, feita por sua mãe, devidamente paga mais tarde na visita ao Convento. Na ocasião, ele teve um mal estar ao entrar em um rio e ficou com falta de ar e sem poder andar por um tempo.

Aos 91 anos, ainda morando sozinho, sofreu a perda do genro mais novo, o que o abalou profundamente.
Após uma pneumonia que o deixou em internação por sete dias, aceitou morar com a filha caçula, a agente de saúde Maura Andrea Orlandi de Souza, que havia ficado viúva.

Paparicado e com muita supervisão das filhas, pedia e recebia tudo nas mãos. Sempre reclamando do banho diário (não era muito sua “praia”, segundo a família), dizia que não tinha trabalhado em roça de café para isso.

Última internação

Com a saúde um pouco frágil, ficou doente, apesar dos cuidados com o isolamento. Ele começou com falta de apetite, febre baixa e falta de ar, quando foi levado para o hospital. Depois de 10 dias de internação, onde recebeu a confirmação para Covid-19, não resistiu.

Sepultamento restrito

A família lamenta que ele foi sepultado sem um velório “digno”, já que nos casos confirmados de coronavírus a despedida deve ser restrita, e sem a presença dos muitos familiares e amigos.

“Vazio enorme”

A homenagem acaba com essa mensagem: “Ele deixa muita saudade, um vazio enorme, mas uma família unida. Além das quatro filhas, deixa oito netos e três bisnetos e muitos amigos novos e outros de sua faixa etária.

Amoroso, forte, corajoso, simples, honesto, engraçado (tinha frases fantásticas), religioso (não perdia as missas no domingo pela TV), caloroso, também teimoso e muito amado, ele partiu deixando o vinho sobre a mesa que iria saborear na Páscoa, juntamente com um pedaço de torta, como era de costume. Gratidão é a palavra que resume o privilégio de termos convivido com ele.

Acreditamos que agora está feliz ao lado de sua doce e amada esposa e todos os familiares e amigos que já partiram.”
 

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